29 de abril de 2019

Teen Spirit | Teen Spirit: Conquista o Sonho (2019)


Vivemos num mundo onde as redes sociais tendem ditar a nossa popularidade perante a sociedade, repleta de gostos, comentários e partilhas, onde qualquer sonho é, aparentemente, alcançável e dependente de como nos safamos entre os nossos pares. Talvez seja por isso que o mais recente filme de Max Minghella, Teen Spirit: Conquista o Sonho, esteja a tentar atingir um objectivo que hoje nos possa parecer estranho.

Conhecemos Violet (Elle Fanning), uma jovem que vive com a sua mãe numa pequena vila britânica e descobre que tem a oportunidade da sua vida para mostrar o que vale ao universo quando o programa de talentos mais popular da televisão faz um casting local. Mas as dificuldades de vida de Violet vão provar que nem tudo é fácil para conquistar o sonho, mostrando-se ser forte ao lado do seu novo mentor, Vlad (Zlatko Buric), um antigo cantor de ópera tornado sem-abrigo.


Na sua estreia na realização de longas-metragens, Max Minghella direcciona um filme competente na sua mensagem, mostrando um bocadinho os bastidores de como programas do género Ídolos e Factor-X funcionam, enquanto torcemos por uma personagem que sabemos que tem dentro dela tudo o que é preciso para ter sucesso.

Se por um lado a interpretação de Fanning é íntima e cativante, deixando abrir o coração para que possamos criar uma pequena relação com ela, por outro muito desse trabalho é estranhamente ofuscado por toda a parte visual da obra, onde a experiência de Minghella na música ditam momentos bizarros, mas que cujas intenções são claramente por opção artística e numa tentativa de contar de uma forma diferente uma narrativa já repetida anteriormente, ao qual não podemos censurar.


Dito isto, e na introspecção cinematográfica de filmes do género, o mais recente exemplo Vox Lux, com Natalie Portman, este demonstrando a história do crescimento duma diva onde Madonna e Lady Gaga interceptam com uma ideia mais punk rock e altamente dramática; não podemos deixar de notar que Teen Spirit: Conquista o Sonho é o produto duma obsessão pela fama, seja ela duma forma física, como virtual, mas que prefere focar no lado mais humano desse processo com uma personagem principal que nós podemos estar ao lado até ao fim, fazendo uma ligação a alguns artistas cuja fama online nos permitiu conhecer verdadeiros talentos, como por exemplo Billie Ellish.

Com isto, Teen Spirit: Conquista o Sonho traz novamente à ribalta uma história já contada previamente, mas com um twist adaptado aos dias de hoje, ainda pondo de lado todo o lado digital que se provaria ser um caminho demasiado fácil, dando oportunidade de conhecermos uma artista pelo que deverá ser mesmo reconhecida: o seu talento.

Nota Final: 3/5 (originalmente 6/10)




Originalmente publicado em Central Comics a 29 de Abril de 2019.

14 de abril de 2019

Greta | Greta - Viúva Solitária (2019)


Em 1994, Neil Jordan fez furor entre os adolescentes ao meter Tom Cruise a contracenar com Brad Pitt em Entrevista com o Vampiro, tornando-se num dos cineastas pelo qual deveríamos prestar mais atenção nos anos '90. Na verdade, desde então não conseguiu repetir o sucesso que o seu filme de vampiros, mas abordou a violência duma forma crua em A Estranha em Mim e regressou aos ambientes obscuros no fantástico Byzantium. Agora, Jordan regressa com um conto ao bom estilo Hitchcock-iano com Greta - Viúva Solitária.

Frances (Chloë Grace Moretz) é uma jovem que está a tentar criar uma vida em Nova Iorque, juntamente com a sua melhor amiga Erica (Maika Monroe), após o falecimento da sua mãe. A sua vida dá uma reviravolta quando encontra uma mala abandonada no metro e decide ir devolver ao seu dono, conhecendo Greta (Isabelle Huppert), uma víuva cujas boas intenções vão para além do que aparentam.


O que primeiro parece ser um melodrama comum, rapidamente se torna num thriller mais ou menos assustador, nem que seja pela obsessão que Greta cria por Frances, ultrapassando vários limites do que é considerado razoável. Esta perseguição é o que mais move o filme, mas infelizmente nem sempre por bons caminhos.

Somos confrontados com uma situação mais plausível do que gostaríamos no mundo de hoje, onde as consequências da bondade são demonstradas com cenários não tão extremos. Afinal, Greta quer, e muito, ser amiga de Frances a todo o custo, nem que isso lhe arruíne a vida. Mas existe uma introspecção q.b. que nos força a pensar o que faríamos na mesma situação, desafiando muita a lógica por trás dum argumento frequentemente confuso e pela forma como coloca obstáculos desnecessários que criam mais problemas que soluções, onde Frances é incapaz de ser mais que uma mera vítima.


É na vitimização da sua personagem principal onde reside o maior problema de Greta - Viúva Solitária, já que oportunidades não lhe faltam para dar a volta à sua situação terrível, sendo nós espectadores vítimas da falta de senso comum da narrativa.

Não que tudo seja tão mau quanto isso, este jogo do rato e do gato proporciona alguns momentos psicologicamente assustadores, ainda que desnecessários, que definem o tom que acompanha o crescendo até ao derradeiro - e previsível - clímax.


Com isto, Greta - Viúva Solitária agarra nas suas inspirações violentas e aplica-as numa narrativa onde as personagens servem apenas o argumento e pouco mais.

Considerando que Moretz e Huppert são veteranas em cada uma das suas eras, seria de esperar mais das suas prestações, que aqui ficam diluídas a apenas peões do argumentista. Não foi desta que Neil Jordan voltou a fazer um clássico intemporal e a este andar, as coisas ficam difíceis.

Nota Final: 1.5/5 (originalmente 3/10)



Originalmente publicado em Central Comics a 14 de Abril de 2019.

2 de abril de 2019

Pet Sematary | Samitério de Animais (2019)


Admiradas como são entre fãs de literatura fantástica e de terror, não é surpresa que as adaptações cinematográficas das obras de Stephen King tenham alguma expectativa, já que o autor cobre nos seus títulos uma variedade de temas sociais modernos, num cenário normalmente assustador. É por isso que a segunda rendição no grande ecrã de Samitério de Animais é um dos filmes mais esperados do ano.

A família Creed, composta pelo Dr. Louis (Jason Clarke), a sua mulher Rachel (Amy Seimetz) e os seus filhos Ellie (Jeté Laurence) e Gage (Lucas Lavoie) mudam-se da grande metrópole para a pequena cidade de Ludlow, com o objectivo de abrandarem a sua vida e viverem num meio pacato. Mas algo de bizarro existe nas traseiras da sua casa nova. Um cemitério de animais que é muito para além daquilo que poderiam esperar despertará novas e estranhas sensações.


Se já em 1989, quando o filme foi adaptado pela primeira vez por Mary Lambert, o mesmo sofria de algumas limitações tecnológicas que não traduziram a obra tão bem para o grande ecrã. 30 anos depois, a dupla de realizadores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer (o brilhante Starry Eyes - Amaldiçoada) agarrou na essência do livro original e explorou todos os cantos possíveis para que fosse das adaptações mais assustadoras de King de sempre, algo que realmente o é.

Para um filme que começa de forma muito tranquila, rapidamente se torna sombrio quando o mistério do Samitério dos Animais faz aparecer uma nuvem negra de terror em forma de traumas psicológicos, mortes terríveis e terras sagradas com poderes místicos, tudo coisas que compõem este filme em algo que certamente não será para corações fracos.


Há uma atenção aos pormenores onde o cenário também ele conta muito da história em seu redor, como também as personagens que integram o seu novo mundo, sobretudo Jud (John Lithgow), que é mais que apenas um residente reformado em Ludlow. É ao bom estilo do terror que os medos pessoais de cada um são abordados de forma individual e que se mostram relevantes perante a situação presente que estão a viver, dando uma oportunidade bem aproveitada de criar pessoas com alguma emoção e abordar sem medos as questões filosóficas da vida e da morte.

Numa altura em que o remake de It tem feito furor - a sua sequela está prevista para Setembro deste ano - parece-nos que é uma excelente altura para trazer ao cinema o lado mais assustador das obras de Stephen King, pensadas com cuidado e que de facto homenageiam o material original. Sim, A Torre Negra, estou a olhar para ti...

Nota Final: 4/5 (originalmente 8/10)



Originalmente publicado em Central Comics a 2 de Abril de 2019.