30 de outubro de 2019

Terminator: Dark Fate | Exterminador Implacável: Destino Sombrio (2019)


Raros são os filmes cujas sequelas são tão bons ou melhores que os primeiros. Aconteceu com Aliens: O Recontro Final, em 1986, e mais recentemente com Homem-Aranha 2, em 2004. Mas entre este período de tempo, James Cameron tinha criado um universo de ficção cientifica de proporções gigantes, sobretudo quando Exterminador Implacável 2: O Dia de Julgamento redefiniu uma era de cinema por inteiro.

Para melhor ou pior, três filmes, com graus variáveis de qualidade, que vão do terrível ao medíocre, no seu melhor, juntamente com uma das séries mais subvalorizadas da televisão e uma infinidade de versões noutros meios, como banda desenhada, o que tinham todos em comum era nunca serem tão bons como a sequela de 1991. Mas algo mudou e Cameron, algures enquanto lida com a realização do seu império cinematográfico dos futuros filmes de Avatar, decidiu voltar a uma franquia que lhe é muito querida, e assume como produtor a verdadeira terceira entrada da série, em Exterminador Implacável: Destino Sombrio.


O ano é 2020 e o mundo como o conhecemos continua praticamente na mesma, muito devido a Sarah Connor (Linda Hamilton) e ao seu filho John, que conseguiram evitar o fim da humanidade e a ascensão da Skynet. Mas o destino é inevitável quando Grace (Mackenzie Davis), uma exterminadora vinda do futuro regressa para proteger Dani (Natalia Reyes), de um exterminador assassino tecnologicamente avançado, chamado Rev-9 (Gabriel Luna). Sarah junta-se à festa, já que nas últimas duas décadas, esta tem-se dedicado a caçar outros exterminadores que têm aparecido ao longo dos anos.

Somos enfrentados com um sentido imediato de nostalgia, ao vermos o regresso de uma das heroínas mais emblemáticas do cinema no grande ecrã, com muitos a porem Sarah Connor lado-a-lado com Ellen Ripley de Alien. Naturalmente, eliminando tudo o que vem para trás, permite contar uma história sem ter de se preocupar em tapar qualquer tipo de buracos na narrativa, podendo este Destino Sombrio dedicar-se a contar a sua verdadeira história.


Existe um momento em que nos apercebemos que a sua estrutura é muito semelhante ao icónico filme de ’91, com algumas diferenças chave que fazem deste novo filme algo interessante de ver, a começar com o trio feminino, onde a velha-guarda colabora com quem acabou de cair no meio duma guerra de décadas. É fácil vermos Sarah como a mãe-líder do grupo, onde a sobrevivência, as noções de destino e o livre-arbítrio são postas em causa, deixando-nos agarrados à cadeira.

Tim Miller estabeleceu o seu sucesso na realização de Deadpool e volta a fazer das suas, com muitas cenas de acção e one-liners cheias de estilo e com muito coração, onde sentimos uma verdadeira empatia na missão das personagens, seja na de Sarah, em eliminar de uma vez por todas a praga; seja de Grace, que faz tudo para proteger Dani, custe o que custar.


Assim, Exterminador Implacável: Destino Sombrio dá à franquia o tão necessitado choque que precisava, 28 anos após ter mudado o cinema para sempre. De certa forma, esperamos nunca mais ver um novo filme no futuro, mas tendo em conta como as coisas funcionam por Hollywood, duvido que esta seja a última vez que veremos um Exterminador Implacável.

Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 30 de Outubro de 2019.

17 de outubro de 2019

The Kill Team | Equipa de Assalto (2019)


Dan Krauss não é estranho em abordar assuntos sérios de uma forma intensa. Prova disso são as suas duas nomeações para os Óscares em Melhor Documentário por The Life of Kevin Carter e Extremis, em 2004 e 2016, respectivamente. Mas houve um em especial que mostrou o lado mais negro das forças armadas norte-americanas, The Kill Team, que agora recebe uma adaptação cinematográfica realizada pelo mesmo em Equipa de Assalto.

A história acompanha Andrew Briggman (Nat Wolff), um jovem soldado que se vê no meio de um crime de guerra, após descobrir que o seu pelotão é responsável por mortes ilegais por parte dos seus compatriotas, lideradas por Deeks (Alexander Skarsgård), um sargento importante na hierarquia militar. Vivendo numa base no Afeganistão, Briggman não é só perseguido pelos inimigos do território onde combate, mas também está sob ameaça daqueles que deviam-lhe proteger.


Baseado em factos reais, Dan Krauss vê uma oportunidade de condensar em uma forma de entretenimento o incrível caso de como tudo aconteceu, podendo ser considerado um excelente acompanhamento ao seu documentário com o mesmo nome, reconstituindo os eventos que lidaram à derradeira descoberta.

É de notar que a acção é mais para além do que qualquer outro filme de guerra moderno que tenhamos visto nos últimos 15 anos, com a diferença de grande parte da fotografia mostrar tudo de forma extremamente pessoal, criando uma certa claustrofobia, e onde podemos sentir a pressão do jovem soldado, onde o dever moral se cruza com fazer tudo para o bem maior, que é proteger a liberdade.


Na verdade, a sua inflexibilidade é notável perante a narrativa, que se cinge a ser uma recriação dos factos, sem pontos secundários ou sequer aprofundar o desenvolvimento da vida das personagens, ficando bastante limitado a este espaço e tempo, podendo ser algo aborrecido, caso procurem uma experiência mais emocionante. Por outro lado, este é também a sua maior qualidade, não perdendo tempo com distracções irrelevantes, que provavelmente não iriam contribuir para o contar desta terrível história verídica.

De longe, Alexander Skarsgård continua o legado de família, sendo aqui uma figura paternal para Andrew, que é apenas um rapaz que sempre quis defender o seu país, onde servir é considerado uma grande honra. A dor ao vermos a sua ingenuidade a ser aproveitada para outros fins é real, e sentimos uma certa proximidade por ele.


Assim, Equipa de Assalto não é um tradicional filme de guerra moderno, onde a tecnologia e as armas dão cenas de acção explosivas, mas sim um filme que mostra o lado mais obscuro do exercito norte-americano, onde os inimigos não são apenas aqueles do lado de fora, mas que podem também ser aqueles a quem confiamos a vida.

Nota Final: 3/5 (originalmente 6/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 17 de Outubro de 2019.

16 de outubro de 2019

Mutant Blast (2019)


O panorama do cinema português nos últimos anos tem sido de recepção mista. Por cada mega-sucesso como Variações ou Snu, existem outros filmes mais obscuros, como Linhas de Sangue ou Leviano, que mostram uma incoerência perante a qualidade de filmes produzidos no nosso país. Mas o realizador Fernando Alle teve outra ideia em mente e com a experiência de curtas-metragens de culto Papá Wrestling e Banana Motherfucker, eis que lança Mutant Blast, que tem feito furor por festivais pelo mundo e que finalmente estreia nas salas portuguesas.

Num futuro próximo, os militares fazem experiências em humanos para criarem super-soldados, mas Maria (Maria Leite) conseguiu libertar o TS-347 (Joaquim Guerreiro) e estão em fuga. Pelo caminho conhecem Pedro (Pedro Barão Dias), um homem que não faz ideia de o que se está a passar e se junta a eles para sobreviver. Mas nem tudo é fácil, já que uma nova ameaça, em forma de bomba nuclear, ameaça as suas vidas.


É fácil deixar-nos levar por todo o nonsense de Mutant Blast, um filme que homenageia, na sua forma, os clássicos filmes de série-Z conhecidos da Troma Entertainment, liderada por Lloyd Kaufman e que também da qual foi produtora. Desde dos diálogos informais, ao uso de efeitos práticos, estes que perseguem na reputação de Alle, onde sangue e tripas são o pão nosso de cada dia e brilhantemente executados de forma exagerada, repleta de comédia sem se conter. Tudo isto faz parte de uma experiência que nenhum outro filme português conseguiu fazer até agora.

Maria Leite, a durona da película, faz um excelente trabalho de mostrar uma mulher poderosa, disposta a correr riscos para concluir a sua missão, que, juntamente com Pedro Barão Dias, fazem um duo balanceado entre a falta de noção de Pedro, que tem que improvisar neste novo mundo, e a responsabilidade que Maria tem em evitar a morte dos civis e eliminar os zombies, quero dizer, os infectados.


Destaca-se também a presença de Joaquim Guerreiro, que providencia algumas das melhores cena do filme como os soldados melhorados TS-504 e TS-347. É importante também referir toda a equipa de efeitos especiais, que construíram um universo de personagens e as suas respectivas mutações, desde da mão de Rato, à orelha no pescoço, entre muitas outras surpresas.

No fim, Mutant Blast é a lufada de ar tóxico que o cinema português necessita, indo na direcção oposta daquilo que já vimos até hoje no cinema made in Portugal e que, finalmente, dá um motivo de verdadeiro orgulho de ver, não só perante os fãs de género, que aqui irão encontrar um verdadeiro filme de culto, como também aqueles que nunca arriscaram em ver um filme da lendária produtora Troma, que certamente serão surpreendidos. E mais, nunca irão olhar para os golfinhos da mesma forma.

Nota Final: 4/5 (originalmente 8/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 16 de Outubro de 2019.

10 de outubro de 2019

Driven | O Caso DeLorean (2019)


Todos conhecemos a loucura que eram os anos ’80 nos Estados Unidos, uma era dominada pela droga e uma América subjugada pela sua economia automóvel. Mas no meio disto, há uma história que se destaca e que é desvendada no grande ecrã, com a ascensão e queda de John DeLorean, no mais recente thriller cómico O Caso DeLorean, realizado por Nick Hamm.

O caso remonta nos inícios dos anos 1980, onde John DeLorean (Lee Pace) teria deixado de lado a sua carreira como designer para as grande fabricantes Ford e General Motors para perseguir o sonho de criar um carro com o seu nome, o icónico DMC-12, que mais tarde viria a ser conhecido como o carro inesquecível da trilogia Regresso ao Futuro. Mas a sua amizade com o ex-vigarista tornado informador do FBI, Jim Hoffman (Jason Sudekis), meteu-o num caminho menos benéfico, prosseguindo para um mundo de tráfico de drogas e fraude, com ajuda do Agente Especial Benedict Tisa (Corey Stoll).


Como em todos os casos em filmes baseados em eventos reais, há que distinguir o que é verdadeiramente real do que é ajustado para efeitos dramáticos, ainda mais numa história com contornos quase excêntricos como este. Felizmente, não existe nada excessivamente exagerado ou alterado, fora algumas situações pontuais, mas nada que altere, por completo, a percepção da história.

Por outro lado, O Caso DeLorean não é um filme particularmente excitante ou muito interessante, visto que o foco está na amizade entre John e Jim, e no desespero de cumprir o derradeiro sonho que é construir um carro único e acessível. Mas problemas no fabrico dos primeiros modelos, juntamente com as acusações de tráfico de droga, ditaram um futuro sem rendimento suficiente para manter o sonho activo.


No entanto, Jason Sudekis mostra que está completamente à vontade em papéis um bocadinho mais sérios, mantendo sempre o seu esperado tom casual e leve, mesmo em situações mais perigosas; enquanto que Lee Pace encara de modo carismático as maneiras de John DeLorean, sempre generoso quanto visionário, com uma ambição comparável a de Steve Jobs ou Bill Gates.

No fim, O Caso DeLorean é uma comédia dramática que permite observar de perto como uma amizade baseada na confiança pode azedar quando as circunstâncias apontam para o pior cenário.. Infelizmente, esta não é mais que uma obra de puro entretenimento, deixando um sabor agridoce, sobretudo quando o documentário Framing John DeLorean, que mistura momentos reais e recriações ficcionais, faz um tremendo trabalho em contar a história toda de uma forma muito mais cativante.

Nota Final: 2.5/5 (originalmente 5/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 10 de Outubro de 2019.

1 de outubro de 2019

Hustlers | Ousadas e Golpistas (2019)


Jennifer Lopez tem feito uma carreira multi-facetada no entretenimento, desde a música, passando pelo cinema e todo o seu império empresarial que gere milhões. Mas a sua presença no pequeno e no grande ecrã tem sido uma constante, e neste Ousadas e Golpistas, vemos a artista como nunca antes vimos.

Baseado no artigo da New York Magazine, da autoria de Jessica Pressler, o filme conta a história de Dorothy (Constance Wu), uma stripper que está no ramo para suportar a sua avó. Mas a vida não é fácil, e Dorothy conhece Ramona (Lopez), após ter visto a quantidade de gorjetas que ela ganhou com uma incrível actuação em palco e no varão.


As duas formam uma grande amizade e Ramona ensina-lhe a ser a melhor stripper que ela possa ser. Mas um ano depois, em 2008, a crise económica mundial acontece, e a sua clientela de trabalhadores na Wall Street começa a desaparecer. Forçadas a improvisar novas formas de fazer dinheiro, estas enveredam por um rumo perigoso, envolvendo drogas influenciáveis e permitindo gastar o máximo possível dos cartões de crédito das suas vítimas, que terão demasiada vergonha em ir à polícia reportar o crime.

A clássica história de crime é fundamentada pela fórmula cliché, onde os ladrões roubam os odiados da sociedade, que tiverem proveito quando o resto do mundo viu a sua vida dar uma reviravolta para pior. No entanto, há aqui uma diferença-chave: o poder da sedução da mulher que cresceu do nada. Esta mudança dá oportunidade para que o rumo da narrativa acabe por mostrar o verdadeiro potencial de uma história de vida real verdadeiramente interessante, que se traduz bem para o grande ecrã, pela mão da realizadora Lorene Scafaria.


Se a primeira parte do filme estabelece o contexto e as personagens principais do filme, de uma forma mais ou menos genérica, as coisas entram na via rápida quando o plano entra em acção. Ainda que seja relativamente repetitivo, a busca da vítima, o roubo e o proveito do seu crime; vemos em primeira-mão como as personagens reagem à sua nova forma de viver, que traz consigo consequências que irão mudar a vida de todas para sempre.

Muito se tem falado da actuação de Jennifer Lopez desde da estreia do filme no festival internacional de cinema em Toronto, que de facto está num dos seus melhores papéis da sua carreira, não apenas fisicamente, não parecendo sequer perto da idade que realmente tem, mas também com uma complexidade emocional e familiar, que é demonstrada junto à personagem de Constance Wu, que se mostra ser a verdadeira estrela deste filme, após o seu protagonismo no filme-sensação Asiáticos Doidos e Ricos. Destaca-se também a aparição de Lili Reinhart, que se mostra pronta para prosseguir a sua carreira no cinema para além da popular série Riverdale e o cameo da artista de hip-hop Cardi B, ela que já no passado trabalhou como stripper em Nova Iorque.


No fim, Ousadas e Golpistas é uma obra cativante para aqueles que procuram uma história com uma subversão de poder interessante, seguindo de perto um dos crimes mais alucinantes dos últimos tempos, com personagens que não deveríamos de torcer mas que certamente nos levam numa viagem sem regresso.

Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 1 de Outubro de 2019.