29 de novembro de 2019

Knives Out | Knives Out: Todos São Suspeitos (2019)


Há décadas que os mistérios de Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle invadem a imaginação na literaturas, e as suas subsequentes adaptações para cinema e televisão, dando vida às histórias de descoberta de quem é o assassino. Mas Rian Johnson, no seu primeiro filme após Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi, decidiu pegar numa ideia que já tinha há cerca de 15 anos e criar Knives Out: Todos São Suspeitos.

Quando Harlan Thrombey (Christopher Plummer), um dos maiores romancistas de crime de sempre, é encontrado morto em sua casa após o seu 85º aniversário, e a sua morte é investigada pelo excêntrico detective Benoit Blanc (Daniel Craig), que, com o seu estranho sotaque,  suspeita da família disfuncional, revelando muitos segredos.


É difícil falar de Knives Out: Todos São Suspeitos sem entrar em território de spoilers, desde já recomendando que o filme seja visto com o mínimo de informação possível para maior aproveitamento. Dito isto, estamos perante um dos filmes mais engenhosos e divertidos do ano, a começar com o crime em si, e a aparente impossibilidade de ter havido um verdadeiro crime cometido, passando por um elenco incrível, composto por Chris Evans, Jamie Lee Curtis, Toni Colette, Michael Shannon e muitas outras caras conhecidas.

Durante pouco mais de duas horas, Johnson mostra a sua capacidade inerente de contar histórias originais, desta vez sem nenhuma corporação em cima dele a controlar a narrativa, provando que o formato consegue vingar no grande ecrã, invés de estender a história em múltiplos episódios, como se tem visto nos últimos anos em televisão. Todos os pormenores são importantes, cada um oferecendo uma peça do grande puzzle, deixando-nos no ar em como tudo está ligado.


Talvez o maior destaque de todos é Ana de Armas, a actriz cubana que tem feito furor nos últimos tempos, em filmes como Knock Knock e Blade Runner 2049, que aqui está no centro de todas as atenções e cumprindo a sua agenda de representar papéis principais diversificados, que, em simbiose natural entre comédia e suspense do argumento de Johnson, faz com que este seja o regresso em boa forma por parte do realizador norte-americano.

Assim, Knives Out: Todos São Suspeitos, mostra que ainda existe uma grade necessidade de conteúdo original no cinema, pegando num conceito clássico e dando-lhe muitas reviravoltas, resultando num filme que nos leva a emoções extremas, entre o riso incontrolável perante os diálogos, seja de como toda a história prossegue o seu caminho, com momentos de nos deixar boquiabertos, enquanto percebemos o que realmente aconteceu a Harlen.

No fundo, é o filme que Agatha Christie se mais orgulharia em inspirado e visto.

Nota Final: 4.5/5 (originalmente 9/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 29 de Novembro de 2019.

9 de novembro de 2019

Ford v Ferrari | Le Mans '66: O Duelo (2019)


No que toca a filmes históricos, muitos são aqueles que retratam os momentos mais marcantes para a humanidade, desde guerras a conquistas sociais. Nisto, é levado com alguma surpresa que o mais recente filme realizado por James Mangold, representa um momento, com uma importância histórica como muitos outros momentos, ainda que específico ao desporto automóvel, em Le Mans ’66: O Duelo, contando uma versão ligeiramente diferente dos factos.

Nos anos ’60, numa tentativa de sair da falência, Henry Ford II (Tracy Letts) procurou uma solução. Uma delas era tentar comprar a Ferrari, que vencia consecutivamente a famosa corrida das 24 horas de Le Mans, mas quando as negociações falharam, o novo objectivo era construir um carro capaz de vencer o fabricante italiano, e provar o quão melhores os norte-americanos eram. Com a ajuda de Carroll Shelby (Matt Damon), e do piloto britânico Ken Miles (Christian Bale), este duo fará tudo por tudo para conseguir chegar à grande corrida francesa. Mas como seria de esperar, vários obstáculos terão que ser ultrapassados.


A dinâmica entre Damon e Bale é das mais interessantes dos últimos tempos, com Shelby a demonstrar a força americana e Miles a sua abordagem britânica à construção do Ford GT-40. De facto, era um carro que necessitava de desenvolvimento, já que o objectivo principal era atingir a perfeição e isso não é algo facilmente atingível, sobretudo quando há interferência por parte de burocratas que só se interessam no retorno financeiro. Mas a paixão genuína que cada um destes homens tem pelas máquinas de quatro rodas, com o respeito mútuo e a confiança que faz com que sejam os melhores naquilo que fazem, garante momentos de pura adrenalina no asfalto.

Ainda que seja historicamente incorrecto, alterando e condensando alguns momentos chave da construção deste supercarro de corrida, naturalmente esta mudança é feita para melhorar a narrativa dramática, com o foco do lado dos americanos, que tinham posto toda a sua fé neste projecto e finalmente saírem vencedores. Este foco, naturalmente, só conta em grande parte, um lado da história, quase vilificando a rivalidade com os italianos, algo que pode não cair bem para quem procura um filme menos tendencioso.


Assim, Le Mans ’66: O Duelo apresenta-nos uma obra de duas horas e meia de muito entusiasmo, sobretudo para fãs de automóveis, que certamente irão encontrar boas razões para delirar com as cenas de corrida e os seus brilhantes efeitos sonoros, numa experiência que será amplificada numa sala IMAX e que James Mangold consegue, mais uma vez, deixar-nos à beira do assento. Por outro lado, quem procura um filme sobre a amizade e a capacidade de dar a volta por cima e vencer, mesmo perante uma grande adversidade, irá encontrar boas razões para vir correr na pista.

Nota Final: 4/5 (originalmente 8/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 9 de Novembro de 2019.

7 de novembro de 2019

Paradise Hills | Raparigas Rebeldes de Paradise Hills (2019)


O surrealismo e o cinema, por vezes, não conseguem atingir um equilíbrio perfeito, sendo eles demasiado surrealista ou levam-se demasiado a sério. É por isso que a recente vaga de cinema, com esta componente experimental pode ser recebida com algum receio pelos espectadores, causando alguma estranheza. Mas a fotógrafa tornada realizadora, Alice Waddington, teve outros planos com a sua sua estreia nas longas-metragens, com Raparigas Rebeldes de Paradise Hills.

Uma (Emma Roberts), acorda numa sala, sem saber bem onde está, rapidamente descobrindo que foi internada numa espécie de hospício, liderada por The Duchess (Milla Jovovich), que espera convencê-la a casar com um membro da realeza. Resistente à mudança, Uma junta as suas novas colegas, Yu (Awkwafina) e Chloe (Danielle Macdonald), em busca de salvação e encontrar uma saída.


A primeira coisa que reparamos, é a atenção ao detalhe, não apenas dos cenários altamente bem construídos, como do guarda-roupa, que definem logo o universo neo-futurista. Aliás, durante todo o filme, tudo vai em função de destacar o lado mais surreal da narrativa, algo cuja visão de Alice Waddington permanece constantemente.

Do outro lado, existe uma história que nos cativa a curiosidade, onde tudo se desenrola revelando um número de camadas, cada uma delas gerindo mais perguntas do que respostas. É essa mesma abordagem que faz das Raparigas Rebeldes de Paradise Hills, personagens que são capazes de reflectir umas nas outras, dando um foco individual às suas lutas pessoais.


Uma tenta escapar de uma vida infeliz. Chloe, foi internada para ser convencida que precisa de perder peso para ser uma mulher perfeita. E Yu necessita de conformar com os valores conversadores dos seus parentes – Este trio luta contra um sistema quebrado e recusam a ceder. Naturalmente, as consequências são devastadoras, mas a união faz a força, mesmo que as suas vidas estejam em perigo.

De facto, todo este mistério pode ser um pouco difícil de digerir, já que existem algumas distracções que podem fazer perder o fio à meada, as coisas acabam por fazer sentido a tudo o que vemos, certificando que nada é deixado sem uma resposta inócua. Isto, aliado a um forte elenco, com a rapper tornada actriz Awkwafina a continuar a sua impressão no cinema ocidental, a veterana Milla Jovovich como a rainha má e Emma Roberts, que prova novamente como é uma das actrizes mais menosprezadas em Hollywood. A junção de todos os ingredientes garantem um filme verdadeiramente interessante, capaz de se tornar numa obra de culto.


Assim, Raparigas Rebeldes de Paradise Hills é o que esperamos que seja o primeiro de muitos passos para Alice Waddington, que já conquistou o mundo da fotografia com as suas sessões de moda, publicadas em revistas de renome pelo globo, passando agora para o cinema a sua visão única.

Nota Final: 4.5/5 (originalmente 9/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 7 de Novembro de 2019.