29 de março de 2018

Ready Player One | Ready Player One - Jogador 1 (2018)


É curioso como um nome como Steven Spielberg ainda carrega muito peso em 2018, num panorama de cinema dominado por super-heróis. Mesmo assim, nada impediu o realizador de uma mão cheia de blockbusters, por muitos considerados intemporais, que foi capaz de meter um pé no hype ao adaptar o popular livro de Ernest Cline, então conhecido como uma ficção com centenas de referências da cultura-pop dos nossos tempos. Como será que Spielberg se deu neste Ready Player One – Jogador 1?

Em 2044, o Mundo já não é aquilo que conhecemos.Vários factores condicionaram o seu desenvolvimento, acabando a população por ser maioritariamente pobre. Para escapar a essa desolação, muitos refugiam-se no OASIS, um mundo virtual criado pelo falecido James Halliday, que revolucionou o mundo com a sua tecnologia de ponta, com um universo onde podemos ser aquilo que quisermos, sem sair do lugar. Entretanto, Halliday escondeu vários easter-eggs, objectos escondidos no OASIS e que quem os encontrar, poderá controlar tudo dentro deste jogo. E quem é que não quer dominar o mundo virtual quando o mundo real é uma completa porcaria?


Wade Watts (Tye Sheridan) é um rapaz com uma vida relativamente banal, mas que no OASIS vive sob o avatar Parzival. Ele e o seu amigo Aech, são apenas duas das milhares de avatars que buscam os Easter Eggs. Mas nem todos têm as mesmas intenções que estes heróis. Contra ele está Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn), CEO da Innovative Online Industries (IOI), onde recrutam vários jogadores dispensáveis com um único propósito: Controlarem o OASIS para um fim capitalista.

Com a tecnologia actual a ser constantemente desenvolvida, este mundo que é nos apresentado num “futuro próximo” é mais que credível. Afinal, o defunto Second Life bem quis muito ser algo parecido, mas com um sucesso que foi cortado mais rápido do que ele queria. Alternando entre o real e o virtual, o filme faz para com que todas as questões morais sejam levantadas, assim como as decisões dos seus intervenientes, e as suas motivações principais.


Ainda mais interessante é como a população geral encara este sistema. Hoje em dia, a disponibilidade de conteúdos descarregáveis como acesso a modos extra ou armas a troco de dinheiro real também existe neste OASIS, com uma particularidade: Quando no mundo virtual, perdem todo o investimento.

Este facto traz uma perspectiva relativamente dinâmica ao mundo que comparativamente com os modelos de negócio de hoje, seriam altamente criticados nas redes sociais (tal como a situação da Electronic Arts com o Star Wars: Battlefront II). Mas será que isto é uma premonição de o que estará para vir?

Como seria esperado, Ready Player One – Jogador 1 está repleto de referências e easter-eggs para nós espectadores. São muitos deles e até os mais atentos terão dificuldade em apanhá-los todos, por isso já vai valer a pena pré-reservar a versão em Blu-Ray para vermos frame-a-frame tudo escapa.


Muitas são as propriedades que podemos encontrar no filme, como a Tracer de Overwatch, o fantástico DeLorean de Regresso ao Futuro, a mota de Akira, o clássico filme de animação Japonês… Poderia estar aqui horas a listar tudo o que está incluído.

Nisto tudo, Spielberg traz-nos mais uma vez um filme digno de colocar aos outros blockbusters que, por muitos, são considerados clássicos familiares, como Parque Jurássico e E.T. – O Extraterrestre. A experiência deste grande filme é ainda melhor em IMAX 3D, tendo ela, ao contrário de muitos filmes lançados neste formato, um excelente valor pelo preço, que faz jus ao slogan de “Viver um filme”. Ora, tanto seja possível…

Nota Final: 4/5

Originalmente publicado em Geek'Alm a 29 de Março de 2018.

19 de março de 2018

Tomb Raider (2018)


As adaptações de videojogos para cinema têm uma má reputação. Por alguma razão, ainda no início dos anos ’90, os estúdios norte-americanos viram o quão apelativo seria tornar em filme algo que os jovens jogavam nas arcadas ou em casa, trazendo a experiência do mundo virtual interactivo para um mundo cinematográfico.

Nem sempre funcionou como devido, como Super Mario Bros. mostrou que adaptar o mundo da Nintendo acabou num filme piroso e sem grande sentido. Ainda que pirosos, os clássicos de beat ‘em up Street Fighter e Mortal Kombat, sempre deixaram ser guilty pleasures valiosos.

Com o passar dos anos, os Resident Evil não contribuíram para nada e Uwe “O Pior Realizador de Sempre” Boll, bem tentou adaptar o máximo número de videojogos, nunca sendo capaz de fazer um que fosse decente. Nem esta é a primeira encarnação de Tomb Raider no grande ecrã, tendo Angelina Jolie feito esse papel no início do milénio, com dois filmes que não passavam de entretenimento para um Domingo à tarde.


Entretanto, no mundo dos videojogos, em 2013, a Lara Croft voltou a aparecer numa nova aventura, num reboot muito bem recebido, que volta às origens dum ícone. Uma Lara jovem, novata e com muito por aprender, é posta no meio do perigo presente e imediato. É com base nesse reboot que este filme se baseia. Mas longe de ser uma cópia por inteiro, ele cria as suas próprias consequências perante as acções levadas pelas actriz sueca Alicia Vikander.

Tentando ser uma jovem normal, Lara é enfrentada com o falecimento do pai há 7 anos, sem sucesso em encontrar as provas que ela precisa. Mas ao seguir um trilho de migalhas, Lara assume o papel de ir atrás daquilo que ele fazia, e tentar descobrir o que realmente aconteceu. Isto leva-a à ilha de Yamatai, onde está escondido o túmulo da Rainha da Morte, Himiko. Claro que quando chega à ilha, a entidade maléfica Trinity ainda não desistiu de chegar ao túmulo que, alegadamente, garante um enorme poder que irá arruinar o mundo.

Existem algumas cenas interessantes ao longo do filme, desde da Lara Croft do dia-a-dia, longe da sua herança e sempre a tentar provar algo, às recriações emocionantes das cenas dos videojogos, que no grande ecrã proporcionam toda uma experiência nova. Infelizmente, o filme fica-se apenas por breves momentos de interesse, que tornam o resto da aventura em algo insípido e, por vezes, aborrecido.


O dito vilão desta história, Mathias Vogel (Walton Goggins) é apenas um homem a seguir cegamente as ordens da Trinity, como o novo parceiro de Lara, Lu Ren (Daniel Wu) não tem grande utilidade nesta película, sendo apenas uma peça crucial durante as cenas do barco a caminho da ilha.

É de momentos que Tomb Raider vive. Momentos de emoção caótica, seguidos por momentos menos interessantes, na tentativa de haver algum tipo de explicação para os acontecimentos e desenvolvimento das personagens.

De longe existe uma comparação com o videojogo, sendo que ele, apesar das poucas semelhanças, segue o seu próprio caminho. Com tantas opções possíveis, não seria de esperar que se fiasse muito no material base, e dou-lhe um ponto por isso. Mas retiro-o logo, porque a opção escolhida parece ter sido executada sem grande fé nos seus objectivos.


Após o final, põe-se em questão das intenções deste primeiro filme, que parece ter na manga algo maior (e melhor, esperemos), deixando aqui um enorme sentimento de que estas duas horas de Tomb Raider não seja um filme, mas sim o primeiro episódio duma série que não existe.

E se há uma coisa que eu não posso admitir dos meus filmes, é que me traiam desta forma…

Nota Final: 2/5


Originalmente publicado em Geek'Alm a 19 de Março de 2018.