22 de março de 2019

Captive State | Captive State - Cercados (2019)


Não será a primeira, nem sequer a última vez que os extraterrestres invadem a Terra, apoderando-o para várias finalidades, desde extinguir a raça humana, a governá-lo de forma que os seus recursos sejam maximizados. É com este último cenário que Captive State - Cercados, se guia, mostrando as consequências dum governo alienígena cooperativo pelos humanos.

Num futuro próximo, extraterrestres invadem o nosso planeta, escravizando-o sob a mensagem de união, onde várias das capitais mundiais reflectem em mudanças positivas. A taxa de desemprego é baixa, a extracção de recursos naturais na Terra multiplicaram por dez e o crime praticamente não existe. Acompanhamos Gabriel Drummond (Ashton Sanders), um jovem órfão que faz parte dum grupo de rebeldes, onde o seu irmão mais velho, Rafe (Jonathan Majors), fora um dos seus grandes líderes.


Após uma emboscada, acabando com a vida de todos os membros da célula, esperava-se que fosse o fim da rebeldia, mas o Detective William Mulligan (John Goodman) suspeita o contrário, perseguindo Gabriel até conseguir as respostas esperadas.

São vários os exemplos de onde este Captive State - Cercados se poderá ter inspirado, como os clássicos modernos Distrito 9, de Neill Blomkamp, ou Os Filhos do Homem de Alfonso Cuarón, a séries de televisão que apresentam cenários políticos semelhantes, como Colony. A sua abordagem de mostrar ambos os lados da moeda, neste caso particular, acabam por não resultar na totalidade, provocando uma mescla de ideias pouco aprofundadas.


Ao vermos como é que a revolta vai acontecer, conhecendo novos rebeldes que esperam mudar o mundo, os oficiais governamentais, que acharam boa ideia passar a batata quente política para os alienígenas que só nos querem explorar, a quem está algures numa zona cinzenta; no fim, notamos uma grande inconsistência em como todas as peças se juntam. É com grande pena que as poucas vezes que vemos os ETs, não parecem ter sequer um quarto da inteligência necessária para governar seja lá o que for.

Se por um lado podemos aplaudir o escritor e realizador Rupert Wyatt por trazer uma história original, por outro a sua execução fica bastante aquém ao esperado, considerando que até realizou o sucesso Planeta dos Macacos: A Origem. Seja como for, é bom ver que o actor veterano John Goodman ainda tem muitas cartas para dar.


Com isto, Captive State - Cercados mostra-nos uma realidade alternativa pouco passível de ser verdadeira, focada nos problemas sociais e políticos do lado humano, deixando no ar a ideia de como é que os visitantes intergalácticos conseguiram fazer tanto em tão pouco tempo sem grandes obstáculos. Devemos ser mesmo incompetentes...

Nota Final: 2/5 (originalmente 4/10)




Originalmente publicado em Central Comics a 22 de Março de 2019.

6 de março de 2019

John McEnroe: In the Realm of Perfection | John McEnroe: O Domínio da Perfeição (2018)


O ténis e o cinema são duas coisas que muito raramente coincidem um com o outro, mas existia um homem que achava que eram uma combinação naturalmente perfeita: Gil de Kermadec. Nos anos '70 e '80 fez uma série de filmes ligados ao desporto de eleição, onde titãs competiam. Excepto que, muitas destas gravações nunca viram a luz do dia, até que Julien Faraut descobriu dezenas de fitas, compilando assim o que acabaria por ser John McEnroe: O Domínio da Perfeição.

Longe de ser o tradicional documentário biográfico, ou sequer um documentário sobre desporto, o grande objectivo deste filme é mostrar a simbiose entre um realizador com uma paixão extensa por John McEnroe, na altura um dos maiores tenistas à face da terra, conquistando tantos fãs como haters pela sua natureza caótica, mas sempre educada. Certamente não era um homem fácil de lidar, mas capaz de cativar interesse com o charme que mais ninguém tinha naquela altura.


Somos brindados com longos clips, brilhantemente restaurados e altamente coloridos, que nos levam de volta aos anos de ouro do ténis, onde as rivalidades tinham uma importância comparável ao que vemos nos livros de banda desenhada, substituindo o herói e o vilão por atletas talentosos com a reputação em linha.

É o caso da rivalidade de McEnroe com Ivan Lendi, ao qual o filme se foca principalmente, havendo um crescimento até à derradeira partida no French Open de 1984, onde estes dois homens se defrontaram numa final que durou pouco mais de 4 horas e meia em campo, sendo este o grande ponto alto do filme, cujo mostra uma tensão que nos faz arrepiar até aos ossos.

Para além disto, vemos de perto, e de modo desconstruído, a forma agressiva como McEnroe jogava, recorrendo a diversas tácticas estratégicas que frequentemente intimidavam os seus oponentes, o que lhes fazia sentir na pele o quão competitivo este era. Os campeonatos tinham que ser ganhos de alguma forma, não é?


John McEnroe: O Domínio da Perfeição é uma obra que existe por uma mera coincidência feliz, motivada pela curiosidade dum cineasta apaixonado pelo mundo em seu redor e que no fim cria algo brilhantemente editado, sendo algo muito mais para além do que Gil de Kermadec poderia ter imaginado com as dezenas das suas gravações. Uma coincidência feliz, que no fim nos deixa com um sorriso de orelha a orelha por poderem ter sido partilhadas num cenário onde todos somos vencedores. Game, set, match.

Nota Final: 4/5 (originalmente 8/10)



Originalmente publicado em Central Comics a 6 de Março de 2019.

1 de março de 2019

The Prodigy | O Prodígio (2019)


Tem-se notado nos últimos tempos uma tendência de filmes que reutilizam as clássicas fórmulas de forma directa, com o único objectivo de os actualizar com as novas ideias da vida moderna. O Prodígio insere-se neste campo, com uma obra naturalmente previsível, mas nunca desce do standard estabelecido previamente pelo género.

Miles (Jackson Robert Scott) é um rapaz de 8 anos muito inteligente, com um Q.I. enorme e uma capacidade cerebral como poucas pessoas. Contudo, Miles também demonstra tendências psicopatas, às quais tudo tem uma explicação minimamente lógica e envolvem um assassino em série. Quem sofre com isto é a mãe dele, Sarah (Taylor Schilling), que acredita que Miles tem salvação e que vai em busca duma solução a modo de curar Miles das suas intenções maquiavélicas.


Tal como praticamente todos os filmes onde surge uma criança com uma veia ruim, o constante dilema de se é tudo uma farsa ou não continua presente neste filme e fá-lo duma forma bem feita, capaz de suscitar uma dúvida razoável em que nós torcemos para que tudo termine bem. Aliás, muitos dos aspectos d'O Prodígio, apesar de em momento nenhum introduzirem algo que nunca tenhamos visto antes, estão bem feitos, algo que Nicholas McCarthy tem experiência, como já vimos no caso de At the Devil's Door em 2014.

A nível de narrativa, não existe praticamente nenhum percalço ou desafio que se faça destacar, sendo este filme focado na relação de mãe-filho entre Sarah e Miles, e a missão de encontrar uma cura, enquanto vivemos na esperança que tudo se resolva da melhor forma. É neste aspecto que Scott e Schilling encaram a sua relação com extrema preocupação e familiaridade, com Scott a mostrar uma bipolaridade incrível, dividindo o tempo entre ser um rapaz inocente e um mais malvado, que certamente irão deixar muitos arrepios.


Desta forma, O Prodígio utiliza de forma eficaz o conceito ao qual se baseia, mesmo que não traga nenhuma novidade refrescante ao género. Não que isto signifique que seja necessariamente mau, pelo contrário, o que não faltam por aí são filmes que confundem a invenção ecléctica de ideias com conceitos inovadores, que acabam por prejudicar fortemente o seu produto final. Sendo assim, jogar pelo seguro foi a melhor decisão que este filme poderia ter feito, já que tudo está decentemente realizado.

Não podemos é deixar de pensar que o filme poderia ter terminado ao fim de 20 minutos, caso alguém se lembrasse de fechar a criança numa caixa para sempre. Sendo assim, lá teremos que assistir às dezenas de oportunidades perdidas para terminar isto de vez.

Nota Final: 2.5/5 (originalmente 5/10)




Originalmente publicado em Central Comics a 1 de Março de 2019.