Em Janeiro de 2018, a edição deste ano do festival de cinema de Sundance nunca mais foi o mesmo, com o realizador Ari Aster a estrear a sua primeira longa-metragem. A crítica presente na sessão não ficou indiferente e em unanimidade, genuinamente classificaram o filme como o mais assustador que já viram em muitos anos, o que certamente irá deixar fãs do género ansiosos.
Hereditário conta a história da família Graham, que enquanto lidam com a morte duma parente próxima, isto parece ter desencadeado um maldição que persegue ambos pais e filhos, das piores formas possíveis.
Pouco a pouco, enquanto que a mãe, Annie (Toni Colette) busca formas de aceitar a morte, esta descobre alguns segredos obscuros sobre a sua linha hereditária, numa narrativa com algum mistério pelo meio.
Ari Aster cria assim, um mundo repleto de ínfimos detalhes, todos eles importantes para contar uma história muito assustadora, que durante pouco mais duas horas, são vários os momentos de choque e de cortar a respiração.
O apelo à humanidade em cada um de nós é um dos factores importantes para que este puzzle faça sentido. A abordagem de temas como o luto e as consequências físicas e mentais que nos submetemos em situações semelhantes, permitem criar um laço de empatia com as personagens durante o que imaginaríamos ser a pior altura da vida deles.
Tudo o que vemos no ecrã tem importância, seja um colar, uma imagem, uma acção… Tudo conta para o grande plano que existe para a família Graham e como serão as consequências daquilo que passam. Toni Colette já foi uma actriz popular durante a década de 90 e que aqui mostra que ainda tem muito para dar, com talvez das suas melhores aparições em cinema desde há muito tempo. Com ela está Alex Wolff, um jovem actor visto anteriormente em Jumanji: Bem-Vindos à Selva, que aqui mostra que é sem dúvida um dos grandes actores duma geração futura.
Poder definir Hereditário em uma palavra será fácil: Chocante. Justificar a escolha da palavra, já não é tão fácil, pois o filme leva o espectador numa viagem que no fim compensa por todos os choques e incredibilidades que irá passar. Há realmente momentos desconfortáveis, que certamente irão deixar qualquer um agarrado à cadeira e com as mãos a tapar a boca.
O próprio género de terror acaba por ter uma reflexão diferente ao espectador, do que outros géneros; os apreciadores dirão que há filmes bons ou filmes maus, raramente havendo um intermédio. Cada vez vemos mais realizadores do género a estrearem-se nas longas metragens e estes serem incrivelmente bons. Foi o que aconteceu com Super Dark Times de Kevin Phillips, Uma Rapariga Regressa de Noite Sozinha a Casa de Ana Lily Amirpour e O Babadook de Jennifer Kent. Isto prova que realmente, o terror é a plataforma ideal para serem contadas as histórias sem grande intervenção dos grandes estúdios de Hollywood. Apoiando nessa teoria estão as distribuidoras, que neste caso particular, foi a A24 que tem feito mais ondas pelos circuitos de festivais, sendo já sinónimo que estamos perante um filme com uma história alternativa.
Assim, Hereditário é mais um dos muitos filmes de terror que nos esperam nas salas durante o resto do ano, vendo o género a ganhar mais oportunidades de mostrar verdadeiras obras-primas como deste tipo. Nós agradecemos, e muito!
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Originalmente publicado em Geek'Alm a 31 de Maio de 2018.