10 de maio de 2018

Anon (2018)


Vindo provavelmente da popularidade da série de culto Black Mirror, ou pelo menos inspirada na antologia de “terror-porque-é-completamente-plausível”, vem um filme que estreia na Netflix em muitos países estrangeiros, mas que alguns terão a oportunidade de ver no grande ecrã. Sendo apologista que os filmes vêem-se melhor numa sala escura, num ecrã 20 vezes maior que eu, Anon foi um filme que não tinha nenhuma expectativa atrás dele e com tudo para se dar bem.

Daqui a uns anos, a nossa privacidade vai nos ser retirada, com a defesa que tem que existir transparência junto às autoridades, facilitando a nossa identificação permanentemente. Juntando a isso, existe um registo de tudo o que fazemos em vídeo, não vão as provas físicas serem insuficientes quando tens o culpado em flagrante delito.

É este o futuro que Anon nos dá. Pelos vistos também nos oferece um futuro sem sol, pois nas quase duas horas de filme, o cinzento era a cor dominante.


É quando uma série de homicídios ditos estranhos acontecem, o Detective Sal Frieland (Clive Owen) é o homem ideal para os investigar. Recorrendo ao sistema de vigilância humano, é possível ver que o sistema visual delas foi hackeado e foram capazes de ver a sua própria morte, nunca podendo então ver quem ser o seu assassino.

A intriga rapidamente foge para a associação da personagem sem nome de Amanda Seyfried, uma rapariga incapaz de ser identificada pelo tal sistema futurista, deixando assim assumir que ela é a culpada.

Duma forma ou doutra, todas as provas apontam para esta rapariga anónima, que eventualmente se descobrem os seus talentos informáticos em alterar os registos e gravações visuais, sem deixar grandes rastos. É fácil de então perceber que a sociedade presente fia-se tanto neste sistema de provas concretas, que são incapazes de aceitar provas que possam ser contraditórias sem sequer considerarem a sua legitimidade no caso.


Toda a narrativa baseia-se no que vemos, com o filme a passar entre dois aspect ratios diferentes, com um letterbox para o mundo real e um 16:9 para o mundo real com sobreposição do virtual. O problema é que estas passagens tornam-se rapidamente enfadonhas e a visão de Point of View (POV) aborrecida ao fim de 3 cenas repetidas.

Anon é um filme que queria muito ser um episódio de Black Mirror, mais claro do que isso é impossível. Mas acabou por ser demasiado pensado, com toda a sua essência de surpresa retirada à força, com um argumento que finge enganar o espectador e uma realização comprometida pelo uso dos efeitos visuais e sobreposições da tecnologia.

Dito isto, e tendo em conta a tecnologia real existente nos dias de hoje, é possível considerar Anon como um falhanço necessário para vermos o potencial que a ideia do espectador decidir o rumo da narrativa dum filme pode ser uma opção viável.


Isto é possível através da CtrlMovie, uma empresa que tem andado nas bocas do mundo estas últimas semanas, depois da 20th Century Fox anunciar que iria produzir um filme onde nós podíamos escolher os caminhos das personagens, dando uma experiência mais personalizada.

Assim, se Anon adoptasse esta tecnologia, talvez teria tido outro destino. Mas da forma que o vemos hoje no formato tradicional de cinema, é uma experiência que, infelizmente, não tem valor que lhe valha.

Nota Final: 3/5


Originalmente publicado em Geek'Alm a 10 de Maio de 2018.

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