18 de maio de 2019

Fighting With My Family | Uma Família No Ringue (2019)


Durante décadas que a World Wrestling Entertainment (WWE) têm criado uma legião de fãs que acompanham semanalmente os episódios de RAW e Smackdown, as novelas constituídas por atletas-lutadores no elenco, em narrativas de bom versus mau. Frequentemente criticado pelos mais ignorantes que rotulam isto como “falso”, o mesmo está no mesmo reino que o cinema ou o teatro, onde a questão não é a sua falsidade, mas sim ser algo com um argumento escrito e pré-planeado, onde os actores muitas vezes sacrificam o seu próprio corpo para o nosso entretenimento.

Uma Família no Ringue, o mais recente filme escrito e realizado por Stephen Merchant, mostra-nos a história de origem de uma das wrestler mais influentes dos últimos tempos, Paige, a lutadora mais nova de sempre o vencer o título de Divas Championship, com apenas 21 anos de idade.


Mas muito antes disso, Paige era Saraya Knight (Florence Pugh), uma jovem cuja família toda é feita de wrestlers. O pai Ricky (Nick Frost), a mãe Julia (Lena Headey) e o irmão Zak (Jack Lowden), todos colaboram juntos numa associação independente de wrestling. As boas notícias chegam quando Saraya e Zak são convidados para fazer provas para a WWE em Londres, ao qual Saraya inicia uma nova luta a caminho de ser uma das novas superestrelas da maior empresa de entretenimento do mundo.

Esta jornada é feita duma forma leve, onde a estrutura tradicional de uma personagem humilde vai subindo até ao topo, ultrapassando todos os obstáculos à sua frente, provando aquilo que vale. Nada falta aqui, desde dos treinos árduos à sua capacidade física e mental, ao bom estilo militar; como a sua integração dentro dos seus pares, neste caso outras raparigas, abordando a reputação que a WWE tem de recrutar modelos de fitness que nunca sequer viram wrestling têm uma oportunidade de serem lutadoras.

A demonstração de paixão e o trabalho que Paige está disposta para atingir o seu sonho é carregado sobre os ombro de Dwayne “The Rock” Johnson, um dos grandes wrestlers dos anos ’90 e inicio do novo milénio, sendo também o primeiro que prosseguiu com sucesso uma carreira em Hollywood; como também de Vince Vaughn, como o treinador inspirador, numa personagem tanto cliché quanto se poderia esperar.


Aliás, toda esta obra não sai duma zona de conforto em termos de estrutura, mantendo uma consistência segura mas conseguindo manter o interesse pela sua temática relativamente nova, revelando, duma forma mais ou menos dramática, o processo de recrutamento de novos talentos, enquanto conta a história duma família diferente das outras e aquilo está no seu sangue, onde o sucesso de Paige é o grande objectivo final e um que temos todo o gosto em testemunhar.

No fim, Uma Família no Ringue é um filme com muita esperança e um coração cheio, mostrando a subida de Paige das suas origens humildes para o grande palco que é a WWE. Acessível tanto a fãs, que irão encontrar alguns easter eggs interessantes sobre os bastidores da empresa, como a quem procura uma história inspiradora, todos irão certamente encontrar aqui boas razões para saírem do cinema com um sorriso na cara.

Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)

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Originalmente publicado em Central Comics a 18 de Maio de 2019.

14 de maio de 2019

Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile | Extremamente Perverso, Escandalosamente Cruel e Vil (2019)


Ted Bundy é o mais recente dos assassinos em série que voltou a receber alguma cobertura mediática, tudo por causa de um homem: Joe Berlinger, que no início do ano, lançou na Netflix o documentário de quatro partes Conversas Com Um Assassino: As Gravações de Ted Bundy, onde entre entrevistas e imagens de arquivo, ficamos a conhecer as acções dementes dum dos assassinos mais notórios de sempre. Não contente em ter-se ficado pela mostra da vida real, Berlinger regressa ao cinema tradicional com uma reencenação da vida de Ted e da sua namorada, Elizabeth Kendall, com Extremamente Perverso, Escandalosamente Cruel e Vil.

Neste filme, Zac Efron encara Ted Bundy, um então jovem encantador que em 1969 conheceu o que provavelmente seria o amor da sua vida, Liz (Lily Collins), uma estudante universitária e mãe solteira, onde ambos acabariam por se relacionar. Anos mais tarde, em 1974, novos indícios de assassinatos começam a aparecer, com todas as provas a apontar para Ted, através de retratos-robô e outras que acabariam por ser incriminatórias para a sentença dos seus crimes nos anos seguintes.


Recusando a declarar-se culpado, Bundy cria um circo mediático à volta das suas acusações, quando o mesmo está no centro do primeiro julgamento em tribunal transmitido em televisão, onde pessoas em todo o mundo testemunham a sua loucura, numa recriação de uma das partes cruciais da sua vida.

Para quem viu As Gravações de Ted Bundy, poderá ver aqui uma versão menos grotesca daquilo que viu e ouviu na série documental, pois ainda que muitos dos detalhes estejam presentes, não existe um único momento de violência que reforce a ideia que estamos perante um sociopata nato. Pelo contrário, Efron faz um brilhante trabalho em vestir a pele do assassino cheio de charme, que é difícil não nos sentirmos encantados pelas suas atitudes e como vagueia pela vida.


Claro que, sabendo o desfecho da história, existe um certo sentimento de desprezo, e francamente nojo, em vermos como Bundy trata o seu próprio julgamento como uma brincadeira, recorrendo a tácticas de diversão, pondo à prova o sistema judicial norte-americano. Ainda assim, somos confrontados com um lado mais carinhoso da vida de Bundy, aproximando o filme ao género drama romântico, algo que não seria de esperar.

Extremamente Perverso, Escandalosamente Cruel e Vil é uma perfeita extensão ao documentário da Netflix, dando uma oportunidade a todos para conhecerem um pouco mais de uma das piores pessoas da história moderna.

Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)

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Originalmente publicado em Central Comics a 14 de Maio de 2019.

12 de maio de 2019

We Die Young | Guerra Sem Quartel (2019)


Quando pensamos que já vimos tudo, eis que aparece algo que nos prova errados. Desta vez em forma de Guerra Sem Quartel, onde Jean-Claude Van Damme, um dos maiores heróis de acção dos anos ’80 e ’90, continua a sua carreira em filmes de baixo orçamento sem grande nível de produção.

Realizado pelo desconhecido Lior Geller, este conta a história a de Lucas (Elijah Rodriguez), um rapaz de 14 anos envolvido num gang mexicano, como passador de droga, determinado que o seu irmão mais novo, Miguel (Nicholas Sean Johnny), não prossiga no mesmo estilo de vida. Daniel (Van Damme) é um dos seus clientes mais regulares, não contente com a dose receitada pelo seu médico de analgésicos, adormecendo as feridas da guerra do qual regressou.

Imediatamente somos confrontados com uma introdução daquilo que nos espera, algo que Lucas diz que “é o melhor e o pior dia da sua vida”, enquanto está em fuga dentro dum carro e membros dum gang atiram sobre ele; fiando-se na ingenuidade do espectador com o intuito de nos deixar com altas expectativas.


De facto o que se segue são várias sequências, praticamente todas filmadas à mão, não recomendável a quem sofrer de enjoo. Ainda que se admire a tentativa da técnica, mais conhecida pela sua utilização brilhante na série de culto The Shield, também a mesma com a sua dose de gangsters, aqui torna muitas das coisas difíceis de acompanhar.

Por outro lado, há que congratular este filme pelo seu esforço em ter uma história minimamente interessante, com polpa suficiente para seguirmos a vida dum conjunto de pessoas que acredita estar acima da lei. Na verdade, o filme conta que o nosso preconceito seja que estamos perante algo previsível, havendo alguns momentos surpreendentes, ao custo de nos deixar a pensar se ele está a ir longe demais.


Claro que tudo isto não seria possível com o cabeça de cartaz, Van Damme, que não é merecedor de tal título, já que o foco é principalmente em Lucas e a situação infeliz ao qual se colocou. Mesmo assim, há que dar os parabéns à produção, que conseguiu fazer de Van Damme uma personagem aborrecida, com zero número de diálogos, limitando-se a poucos grunhidos e acenos de cabeça, enquanto é vulnerável o suficiente para se esquecer de todo o seu treino de artes marciais.

Ainda que a portuguesa internacional Joana Metrass continue a fazer o seu bom trabalho em Hollywood, a actriz merece muito melhor que uma personagem secundária com pouca relevância para a história.

Assim, Guerra Sem Quartel é um filme sem estilo, nem substância suficiente para cativar qualquer público, ao qual recomenda-se literalmente qualquer outra tarefa diária, que certamente será mais produtiva. Fica para a próxima.

Nota Final: 0.5/5 (originalmente 1/10)

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Originalmente publicado em Central Comics a 12 de Maio de 2019.

5 de maio de 2019

Long Shot | Seduz-me Se És Capaz (2019)


Comecemos com um facto curioso: Seduz-Me Se És Capaz é a primeira comédia romântica de Charlize Theron, e apenas com isso já está a fazer história no cinema. Jonathan Levine tem feito uma carreira em comédias numa inteligência emocional adaptada aos tempos modernos, onde o riso vem de situações empáticas, mesmo em contextos fantasiosos, como foi o caso de Sangue Quente.

De volta à vida real, conhecemos Fred (Seth Rogen), um jornalista liberal que vê a sua vida dar uma reviravolta quando é despedido, após o jornal onde trabalhava ter sido comprado por um aglomerado de media, conhecido por criar campanhas de propaganda de fake news. Felizmente o universo tem destas coisas e Fred reencontra-se com a sua babysitter de quando era mais novo, Charlotte Field (Charlize Theron), que é agora uma das mulheres mais importantes dos Estados Unidos e prestes a concorrer à presidência e que oferece Fred a oportunidade de escrever os seus discursos.

Com o novo emprego, Fred acaba por passar muito tempo com Charlotte, trazendo ao de cima vários sentimentos que os levam a ter uma relação pouco improvável, onde pelos vistos, os opostos realmente se atraem quando revelam as suas verdadeiras intenções.


Não é surpresa que as obras de Levine têm sido menos cómicas, algo relativamente surpreendente, já que foi o mesmo que realizou duas das melhores comédias dramáticas desta década, com 50/50 e Sangue Quente, ambos em lados opostos no que toca a temática. É por isso que o envolvimento de Seth Rogen, por mais que a sua comédia seja icónica, acabe por ser uma reciclagem de outros filmes ao qual teve um envolvimento criativo, como Isto é o Fim! e A Entrevista, reduzindo muito da premissa num conjunto de piadas políticas, sexuais e com fluídos corporais, atingindo um absurdo que é apenas comparável ao estado político norte-americano.

Não se limitando pela sua capacidade de tomar um rumo do esperado, arrisca muito em mostrar que somos todos iguais, vulneráveis a necessidades básicas do ser humano, por baixo esconde-se uma crítica social de um mundo paralelo, onde a aceitação das nossas diferenças acabam por fazer um mundo melhor. Assim, acaba por ser mais interessante que esperado ver Theron noutro registo, mostrando a sua veia mais cómica, com um grande apoio de Rogen.


Dito isto, Seduz-Me Se És Capaz é uma comédia romântica para os tempos de hoje, provando que a tolice do mundo real não difere assim tanto da ficção, reforçando que por mais estúpidas sejam as piadas, mais tarde ou mais cedo vamos acabar por nos rirmos.

Nota Final: 3/5 (originalmente 6/10)



Originalmente publicado em Central Comics a 5 de Maio de 2019.

4 de maio de 2019

John Wick: Chapter 2 | John Wick 2 (2017)


Após ter criado o seu pequeno fenómeno de culto, Keanu Reeves regressa no que é certamente o papel que define a sua carreira, ao lado daqueles todos que nos lembramos dos anos '90, e claro, da trilogia Matrix. Mas John Wick é um bicho diferente, um bicho onde uma premissa relativamente simples mostra o potencial de ser algo muito maior. Naturalmente, o sucesso do primeiro filme permitiu que este John Wick 2 mergulhasse no mundo que já no primeiro quis muito contar, desta vez com Chad Stahelski a solo na realização.


Horas depois do seu confronto com os russos, o regresso de John ao submundo dos assassinos fez com que um antigo associado, Santino D'Antonio (Riccardo Scamarcio) cobrasse o que lhe era devido: um favor em forma de assassínio, neste caso da sua irmã Gianna (Claudia Gerini), que ocupa um lugar na High Table, a organização criminosa-mor deste universo.

Este favor não é fácil de cumprir para John, já que este estava reformado e ainda sobre luto da morte da sua mulher, mas que não tem outra opção se quiser sair de vez. Como seria esperado, não será tarefa fácil.


Logo à partida,apercebemos-nos que estamos perante um filme recompensado com um orçamento maior, não fosse as várias viagens que John faz ao longo da película, onde é dado a conhecer o quão longe é o alcance da High Table, quem são e as devidas consequências em não jogar pelas regras deles. Quanto mais fundo vamos prosseguindo, mais percebemos que existe todo um universo a debaixo do nosso nariz, um que acaba por, mera nostalgia, reunir Keanu Reeves a Laurence Fishburne, como um dos seus aliados, ao qual se junta novamente Ian McShane, que é de longe uma dádiva para esta série.

Enquanto que o filme anterior, um primeiro passo repleto de coincidências felizes à mercê dos argumentistas, fosse eficaz o suficiente para ser perdoável todo o aspecto básico de storytelling, esta sequela já contém mais substância, ao acompanharmos um herói que apenas se quer paz e sossego, duma vez por todas. Garantidos estão os vários tiroteios e tantas outras sequências de acção, algumas gravadas duma vez, mostrando a belíssima coreografia envolvida que realmente fazem destes filmes altamente divertidos de se ver, com um terceiro acto digno dum épico.


Ainda que o seu final se sinta um pouco forçosamente para abrir portas para uma trilogia, na verdade é difícil ter qualquer tipo de problema por terem arranjado uma desculpa para vermos mais de John Wick e vermos o quão longe ele está disposto a ir contra aqueles que o querem morto.

Nota Final: 4/5

John Wick (2014)


Continuando a saga da reinvenção de filmes de acção, eis que o carismático Keanu Reeves se vê novamente no centro duma revolução chamada John Wick, provando duma vez por todas como ele é capaz de liderar o futuro do cinema. Ou mais ou menos isso.

Reeves é John Wick, um homem que acabou de perder a sua mulher e que a mesma no seu testamento, ordenou que fosse enviado um cachorro para o viúvo tomar conta, dando uma pequena luz de esperança ao fundo do túnel. Mas após um assalto em sua casa, causando a morte da pequena Daisy, John revela que é um ex-assassino e que irá usar os seus talentos para garantir que a sua vingança seja bem sucedida.


Ao longo de uma série de coincidências, a premissa conta que o espectador torça pela sua personagem principal, explorando o lado emocional dum animal morto, onde vamos até ao fim a implorar que John enterre o seu assassino. É através duma série de cenas, que lentamente abrem o mundo onde John era, aparentemente, o melhor dos melhores, sendo ele um homem totalmente focado no seu objectivo. Excepto desta vez as coisas viraram-se contra eles e agora são eles o objectivo principal.

Tal como a trilogia Bourne, como Taken - A Vingança, John Wick abre caminho para a revitalização do cinema de acção norte-americano, baseando a sua narrativa no que foi feito durante os anos '80 e '90, adaptando-os para uma era moderna, sem que haja necessidade de recorrer à nostalgia: John Wick é perfeitamente capaz de se sustentar sozinho.


Isto deve-se ao duo de realizadores David Leitch e Chad Stahelski, que criam um universo com um enorme potencial a ser explorado nas suas sequelas futuras. Isto ao mesmo tempo proporcionando um filme repleto de cenas empolgantes, do inicio ao fim.

A forma com que John age durante os seus vários momentos de violência levam-nos até ao ano 2002, onde Kurt Wimmer tinha deixado o mundo boquiaberto com Equilibrium, um filme pioneiro na mistura das artes marciais com o uso de armas de fogo, o chamado gun-kata. O mesmo é visto neste filme, com John raramente a falhar um tiro no alvo, feito com tanto estilo e substância que é impossível criticar.


Por outro lado, é de mencionar a banda sonora pela mão de Tyler Bates, batendo certo a todos os momentos, inclusive quando introduz pela primeira vez a sua colaboração com Marilyn Manson, com o tema "Killing Strangers", marcando o inicio duma nova era na sua carreira, fazendo do compositor um dos nomes mais interessantes na música.

Deste modo, John Wick é o primeiro passo necessário para preencher o nicho de cinema de acção duma forma apelativa, não apenas àquelas que acompanharam as diversas décadas de filmes protagonizadas por Bruce Willis, Sylvester Stallone, Wesley Snipes ou Arnold Schwarzenegger; introduzindo um novo jogador, capaz de ser mais rápido e letal, digno de estar ao lado deles, deixando-nos a querer muito, muito, mais.

Nota Final: 4/5

1 de maio de 2019

The Beach Bum | The Beach Bum: A Vida Numa Boa (2019)


A última vez que vimos Harmony Korine, o realizador norte-americano tinha pegado fogo ao mundo com o seu tanto controverso e igualmente divisivo Spring Breakers: Viagem de Finalistas, onde as "meninas da Disney" Vanessa Hudgens e Selena Gomez, juntamente com a jovem ascendente Ashley Benson viram-se encurraladas numa vida de crime com James Franco. Seis anos à data, Korine regressa com uma nova aventura noutro registo, com The Beach Bum: A Vida Numa Boa.

Moondog (Matthew McConaughey) é um poeta à deriva que se alimenta do divertimento da vida, passando os seus dias a beber, fumar drogas e engatar mulheres, enquanto passa para o papel aquilo que sente, utilizando uma simples máquina de escrever. A vida está alta e recomenda-se, diria ele.


Tal como a vida real, esta é feita de momentos, desde do casamento da sua filha Heather (Stefania LaVie Owen), ao reencontro com a sua mulher Minnie (Isla Fisher), a todo o tipo de coisas divertidas com o seu grande amigo Lingerie (Snoop Dogg), proporcionando uma verdadeira aventura, sendo uma carta de amor à liberdade da vida.

O grande fio condutor parece ser a experiência não filtrada de Moondog, que vai numa descoberta de si próprio em busca da felicidade e daquilo que lhe vai na alma, onde todo o ensemble do elenco, que inclui Zac Efron, Jonah Hill e Martin Lawrence - este último no seu primeiro papel em cinema em 8 anos - têm uma participação significativa no crescimento emocional de Moondog, até ao seu derradeiro momento de glória.


Harmony Korine parece ter ouvido a crítica e os seus fãs, que após toda a violência em Spring Breakers viram um lado mais obscuro da sua mente, sendo que aqui a calma e a tranquilidade prevalecem na função básica de ir ao cinema: sentirmos entretidos e sem preocupações durante hora e meia. Na verdade é mesmo isso que sentimos, enquanto nos rimos com as muitas situações caricatas, ou sentirmos mais emocionais em alturas mais tristes, mas que carregam uma certa genuinidade que é relativamente rara de se ver hoje.

Isto é aliado a um Matthew McConaughey a interpretar o que imagino que seja uma versão muito exagerada de si mesmo, sendo que o actor é conhecido pela sua personalidade relaxada enquanto não encara papéis mais sérios como de advogado, ou enquanto é a voz de anúncios virais de automóveis. É essa descontracção que mostra ser a melhor escolha possível e que nos cativa como nenhum outro.


Assim, The Beach Bum: A Vida Numa Boa foge, e longe, de toda a estrutura blockbuster para nos dar a conhecer um pouco da vida dum dos poetas mais carismáticos de sempre, deixando-nos com um sorriso de orelha a orelha e a querer celebrar os muitos dias quentes que estão a vir, mas talvez com alguma moderação...

Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)



Originalmente publicado em Central Comics a 1 de Maio de 2019.