31 de dezembro de 2019
Bad Boys II (2003)
A segunda vinda de Bad Boys aconteceu uns meros 8 anos após a sua estreia. Mas neste espaço de tempo, muito no mundo mudou, com o maior ataque terrorista do mundo ter acontecido a 11 de Setembro de 2001. Não tardou até que Michael Bay regressasse com a dupla que o pôs no mapa, no que era na altura um mundo completamente diferente.
Em Bad Boys II os detectives Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Burnett (Martin Lawrence) enfrentam um barão de droga cubano que se dá pelo nome Johnny Tapia (Jordi Mollà), que está a destruir as ruas de Miami com a distribuição de ecstacy. Os rapazes rapidamente se vêem no meio de uma guerra, envolvendo a DEA, uma mortuária e até os Ku Klux Klan.
Ao fim de quase uma década, é bom ver que a parceria entre Mike e Marcus tenha sido fortificada, adaptando ás mudanças do tempo e das tecnologias. Desta vez o Porsche foi substítuido por um Ferrari, onde temos direito a uma das perseguições mais intensas, nem que seja para ouvir o rugido de um dos supercarros mais exóticos da altura em plena auto-estrada.
A isto se adiciona uma componente externa, na forma de Sydney Burnett (Gabrielle Union), irmã de Marcus e agente sob disfarce da DEA, que também está em processo de infiltrar a companhia de Jonnhy Tapia e arruiná-lo de uma vez por todas.
Uma das coisas que podemos reparar em Bad Boys II é que é um filme de extremos, oferecendo momentos altamente divertidos e de grande intensidade, como a perseguição de carros mencionada anteriormente, ao tiroteio entre Mike e Marcus e um gang de haitianos; como de completo nonsense, como todas as cenas demonstradas na mortuária, ou a limpeza de ratos, que frequentemente roçam o mau gosto e que pouco ou nada contribuem para a narrativa principal, estendendo um filme que chega a ser duas horas e meia de demasiada loucura.
Por outro lado, este é capaz de ser um dos filmes mais genuínos de Bay, numa era digital, onde a maior sexualização feminina, a agressividade excessiva, também ela com algumas menções de patriotismo hipócrita, tudo isto no fundo é uma coleção de momentos que acumulados, constroem algum tipo de história que de facto tem os seus altos e baixos, mas que propocionam um sentimento de diversão como poucos filmes conseguem.
Sim, existem alturas em que as a misogonia ou a violência extrema falha, mas também existem alturas onde a dedicação de criar autênticos momentos cinematográficos vêm ao de cima e são esses que triunfam com todo o seu carácter sincero de ser um filme americano com o maior orgulho. Assim, 17 anos depois da sua estreia e a poucas semanas antes do novo filme, Bad Boys II é uma memória em como Michael Bay soube criar com sucesso uma adaptação de um vídeojogo inexsitente.
Nota Final:3.5/5
Bad Boys | Os Bad Boys (1995)
A glória dos anos '90 trouxe muitos filmes de acção que iriam definir o cinema como o conhecemos, mas existe um realizador particular que até hoje tem tantos fãs como haters, que começou a sua carreira com um dos grandes filmes da década. É com Os Bad Boys que Michael Bay se introduz ao mundo do cinema, tendo já uma carreira estabelecida a fazer anúncios de televisão e vídeos musicais, enquanto define o termo de buddy-cop movie, com repercussões ainda se sentem no grande ecrã.
Os detectives Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Burnett (Martin Lawrence) são uma dupla inseparável, confrontados agora com o caso do desaparecimento de um carregamento de droga, roubada à polícia. A isto se junta a morte de uma das amigas de Mike, que também está ligada ao roubo. A investigação leva a dupla a conhecer uma testemunha, Julie Mott (Téa Leoni), da qual têm que proteger do rei do crime Fouchet (Tchéky Karyo).
Por esta altura, Bruce Willis já teria protagonizado Assalto ao Arranha-Céus e Assalto ao Aeroporto, com a terceira entrada, Die Hard: A Vingança com Samuel L. Jackson ao seu lado a estrear um mês depois deste Bad Boys, o que prova que a meia da década de '90 estávamos perante uma segunda onda de filmes com duplas, onde Arma Mortífera também estaria inserido pelo meio.
Para a altura, a narrativa não podia ser a mais simples, construída através do desenvolvimento necessário para que hajam sobretudo momentos de grande tiroteios e frases memoráveis, provavelmente constituídas com um palavrão. Mas é a dinâmica entre Smith e Lawrence que faz do filme um dos mais divertidos do seu género, principalmente nas partes improvisados pela dupla. Podem nem sempre resultar, mas adiciona uma camada de genuinidade que o filme bem precisa, já que a estreia de Michael Bay nas longas-metragens tem graves problemas de adaptação.
Falo do seu estilo, hoje icónico, do realizador que durante duas horas faz um filme de acção parecer uma montagem de anúncios, o que nem sempre é positivo. Esta primeira tentativa é, como esperado, levada com muita experimentação pelo meio. Por outro lado, esta é talvez a única vez que poderemos chamar de Bay um verdadeiro auteur, já que neste filme o seu estilo-assinatura está presente logo de inicio.
No fim, Os Bad Boys marcam o belo começo entre dois actores em ascendência, conhecidos anteriormente pelos seus papéis na comédia e que prosseguiram o resto da década de '90 nos seus registos únicos, com Lawrence a forcar-se na comédia e Smith em tudo um pouco, mas sobretudo acção. Pelo menos até 2003, quando a dupla se reencontra para uma nova aventura.
Nota Final: 3/5
27 de dezembro de 2019
Line of Duty | Line of Duty: O Resgate (2019)
Para Aaron Eckhart, deve existir uma vida antes e depois de O Cavaleiro das Trevas, quando em 2008 encarou Harvey Dent, num dos mais aclamados filmes de super-heróis de sempre, tendo depois protagonizado outros diversos filmes, entre eles O Expatriado, que tentou posicionar o actor como um possível herói de acção. Por mais que tentasse, Eckhart nunca se fomentou nessa posição, mas o realizador Steven C. Miller viu algo nele e com seu novo, Line of Duty: O Resgate, um thriller algo alucinante.
Neste filme conhecemos Frank Penny (Eckhart), um polícia que passa os seus dias a patrulhar as ruas da cidade e mantê-las seguras, até que no pior dos seus dias interfere com uma missão de captura de um raptor, matando a única pista para reaverem a filha de um comandante das forças policiais. Indiferente às ordens, este decide prosseguir com a sua missão de salvamento, acompanhado por uma jovem jornalista, Ava Brooks (Courtney Eaton), que quer apenas mostrar o lado real das notícias.
Line of Duty: O Resgate segue uma estrutura clássica de um filme de acção onde tudo encaminha para momentos de grande tensão, frequentemente em forma de tiroteios intensos, onde o vilão principal, interpretado por Ben McKenzie, mostra um lado diferente do actor que conhecemos na popular série sobre adolescentes O.C. – Na Terra dos Ricos, e que tem feito uma carreira como o bom da fita como James Gordon em Gotham.
Esta missão tem também os seus momentos mais ridículos, onde o senso de urgência parece não ter grande importância, sobretudo quando Frank e Ava discutem sobre coisas triviais, em cenas que acabam por ser frustrantes. Ainda assim, o seu papel secundário traz boas intenções, numa altura em que os media utilizam imagens policiais, por vezes distorcendo a verdade e o seu contexto. Naturalmente que estamos a apoiar este vigilante que só quer fazer o bem, mas por vezes perde o seu verdadeiro sentido, principalmente quando, subtilmente, percebemos que os polícias nesta cidade não só têm má pontaria, como também são incompetentes a investigar um crime cometido contra um dos seus chefes. Nunca nos é explicado porque assim seja, mas rapidamente nos distraímos com as trocas de balas.
Assim, Line of Duty: O Resgate é um thriller de acção sem grande pompa e circunstância, mas que opta por explorar a ideia do género num mundo dominado por ecrãs de smartphones e as notícias a serem acompanhadas em directo e sem filtro. Entre tiroteios e diálogos desajeitados entre um homem de meia idade e uma millennial, nem tudo acerta no ponto, mas garantidamente passam uma sessão minimamente divertida no cinema.
Nota Final: 3/5 (originalmente 6/10)
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Originalmente publicado em Central Comics a 27 de Dezembro de 2019.
Richard Jewell | O Caso de Richard Jewell (2019)
Existem histórias da vida que contadas na altura certa, têm um impacto diferente, sobretudo quando essas reflectem a sociedade no presente. O Caso de Richard Jewell é uma dessas histórias, que perante a inundação das chamadas fake news pelas redes sociais, Clint Eastwood recorda o que aconteceu no Centennial Park em Atlanta durante os Jogos Olímpicos de 1996.
Richard Jewell (Paul Walter Hauser) é um simples homem que quer apenas contribuir positivamente para a sociedade, acabando por seguir o seu objectivo de pertencer às forças da autoridade, como segurança dos Jogos Olímpicos de Atlanta, que decorrerem em 1996. Durante um dos concertos da celebração da abertura, Richard repara numa mochila abandonada. Ao seguir o protocolo e informar a polícia, descobre-se que a mochila contém explosivos, e que ao detonar, resulta em duas mortes e pouco mais de uma centena de feridos.
Visto inicialmente como um herói, as coisas rapidamente mudam de figura quando a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) indica Richard como o autor da explosão, baseando apenas na informação dada pelo agente do FBI Tom Shaw (Jon Hamm), que o segurança estaria a ser investigado; iniciando assim um frenesim onde Richard tem os media e as autoridades viradas contra ele.
Existem momentos chocantes neste filme, muitos deles que nos deixam a pensar se aquilo realmente aconteceu, por ser demasiado extremo para ser realidade (spoiler: grande parte aconteceu exactamente como retratado). Mas é esse factor choque que nos prende à história de Richard e na sua batalha de limpar o seu bom nome. Felizmente, ele não está sozinho, podendo contar com o seu amigo advogado Watson Bryant (Sam Rockwell) e a sua mãe, Barbara (Kathy Bates).
O cinema realizado por Clint Eastwood tem sofrido de alguma inconsistência, mas O Caso de Richard Jewell está certamente no lado bom da sua carreira, com uma narrativa que tem tanto de intrigante como de relevante em como encaramos as notícias hoje em dia. É de facto incrível ver como há pouco menos de 25 anos, a ideia da propagação em massa de notícias falsas eram capazes de arruinar o nome de alguém inocente, em julgamento público.
Talvez o melhor no meio disto tudo é a dinâmica entre Paul Walter Hauser e Sam Rockwell, que, com a sua dinâmica inigualável, conseguem tirar bons momentos como por exemplo quando Watson grita com Richard para parar de ser tão compreensível perante as autoridades que o querem entalar e cobrirem a sua incompetência. Jon Hamm, a encarar o vilão desta história, um momento raro para o actor, também tem os seus bons momentos.
No fim, O Caso de Richard Jewell é uma das melhores adaptações cinematográficas baseadas em factos reais, mostrando o lado humano de uma situação descontrolada, provando que antes de vir o clickbait na internet, já alguns jornais o faziam sem pudor.
Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)
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Originalmente publicado em Central Comics a 27 de Dezembro de 2019.
19 de dezembro de 2019
Jexi (2019)
Não é a primeira vez que vemos a tecnologia a ganhar uma consciência própria e virar-se contra os humanos. Exemplos como K.A.R.R. de O Justiceiro ou HAL 9000 em 2001: Uma Odisseia no Espaço, ou até muitos dos episódios assustadores de Black Mirror, que mostram um mundo sombrio com consequências avassaladoras. Em Jexi, vamos conhecer uma outra variante da Siri da Apple ou a Alexa da Amazon, que vem dar alguma leveza a um conceito clássico, no novo filme da dupla de Jon Lucas e Scott Moore (Mães à Solta, A Ressaca).
Phil (Adam Devine) é um jovem que passou toda a sua vida colado ao telemóvel, obcecado por ele a níveis bastante perigosos, ao ponto de não ter uma vida para além do dispositivo móvel. Isto até que um dia vai contra Cate (Alexandra Shipp), uma bela rapariga, da qual Phil se apaixona, ainda que o acidente tenha quebrado o seu smartphone. Ao comprar um novo, Phil dá de caras com JEXI (com a bela voz de Rose Byrne), que prova ser muito mais que uma simples assistente.
JEXI é agressiva, inapropriada e politicamente incorrecta, contra-balançando a personalidade introvertida de Phil, que utiliza a tecnologia para satisfazer todos os seus pedidos. Afinal, estamos no virar da década e o poder da internet das coisas é uma realidade. No entanto, o filme felizmente tem noção de o quão ridículo o mundo se tornou e segue, em grande parte, o rumo da sátira, através da força de uma personagem virtual que é o caso do pior cenário possível.
Do outro lado da narrativa, está uma história romântica onde os millennials conseguem-se facilmente identificar, já que Cate é uma rapariga de espírito livre, amante das actividades ao ar livre e sem medos quando toma riscos, vivendo a vida ao máximo, puxando pela mesma faceta em Phil, com algum sucesso. Infelizmente aqui é quando Jexi começa a mostrar as suas falhas no sistema operativo, onde começa por parecer algo interessante e ligeiramente diferente do costume, para no final do filme acabar insonso e comum. Mas até as coisas ficarem banais, existem alguns momentos tão caricatos, que parecem tirados das coincidência da vida real.
Repleto de algumas piadas inteligentes e outras menos impressionantes, Jexi é uma comédia-romântica que simplesmente funciona, onde a sua falta de ambição se traduz numa história minimamente equilibrada, com o bónus de termos um smartphone falante a ser a pior melhor amiga de sempre; tendo a perfeita noção de toda a absurdidade do mundo que construiu em sua volta, ganhando todos os pontos.
Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)
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Originalmente publicado em Central Comics a 19 de Dezembro de 2019.
17 de dezembro de 2019
Code 8 (2019)
Quando em Março de 2016 a internet ficou intrigada com uma curta-metragem realizada por Jeff Chan, intitulada Code 8, vimos um mundo futurista onde pessoas com super-poderes recorrem ao crime para sobreviver, já que ter poderes não significava ser rico, forçando que a polícia se tornasse militarizada e capaz de lidar com possíveis ameaças. Este teaser de 10 minutos serviu também como uma prova de conceito para o respectivo crowdfunding, de modo a expandir o mundo de Code 8 numa longa-metragem, algo que fez com grande sucesso. Três anos e meio depois, vemos agora como saiu o produto final.
Conner Reed (Robbie Amell) é um jovem com o super-poder de controlar a electricidade, com uma das classificações mais alta na escala de capacidade de poder. Infelizmente, a sua mãe (Kari Matchett), também com poderes, está a morrer lentamente e os custos financeiros fazem com que Conner tenha que recorrer a meios mais ortodoxos para conseguir pagar as contas, envolvendo-se com Garrett (Stephan Amell), um criminoso que trabalha para um barão de droga, enquanto tentam escapar das manhas de uma unidade policial liderada pelo Agent Park (Sung Kang) e Agent David (Aaron Abrams).
Numa altura em que a dominação de super-heróis tende ser excessiva e comercialmente mais bem recebida, a abordagem para um lado futurista beneficia em grande parte o rumo da história, da mesma forma que estamos perante uma versão mais discreta dos X-Men, ainda que esta sociedade aceite pessoas com poderes. É importante notar que os mesmos não são imortais, pelo contrário, são muito poucos aqueles capazes de sustentar balas.
Por outro lado, as influências de Neill Blomkamp, estão aqui retratadas como uma realidade mais prática, onde humanos e máquinas trabalham em conjunto. Independentemente disso, o toque humano, sobretudo por parte de Agent Park, mostra que o mundo nem sempre é preto e branco, e que existem poderosos que estão apenas a tentar sobreviver no seu dia-a-dia. No entanto, as cenas policiais poderiam ser mais elaboradas e exploradas através daquele ponto de vista.
Talvez aquilo que pode causar mais estranheza é o facto de Robbie e Stephan estarem a contracenar opostos um do outro, com os mais atentos a notarem as suas semelhanças de familiaridade, e em altura nenhuma, haver qualquer tipo de menção ou sequer suspeita. Felizmente, não é suficiente para distrair do resto do filme.
Assim, Code 8 é um exemplo interessante em como o cinema independente ainda é capaz de dar cartas, ainda mais se o caso for financiado fora dos canais habituais. Este é o caso de um filme humilde e com noção do seu potencial, acabando assim ser capaz de aproveitar bem tudo aquilo que é composto, seja a nível de produção, seja de elenco e de história, esta última iniciada com uma curta-metragem de orçamento limitado. Porém, é provável que acabe perdido no meio de tantos outros filmes do género, não conseguindo se distinguir do resto.
Nota Final: 3.5/5
11 de dezembro de 2019
Jumanji: The Next Level | Jumanji: O Nível Seguinte (2019)
Quando o pseudo-reboot-sequela espiritual de Jumanji foi lançado em 2017, com Jumanji: Bem-Vindos à Selva, as expectativas entre o público e a crítica foram mistas, mas rapidamente acentuadas como uma aventura divertida e um abordagem decente à ideia de trocas corporais. Longe de ser a viagem intensa, igualável ao clássico de 1995, com Robin Williams, esta nova versão era suficiente para agradar durante uma tarde no cinema. Tanto agradou que o seu box office internacional chegou a quase aos mil milhões, garantindo uma sequela em Jumanji: O Nível Seguinte.
O realizador Jake Kasdan reúne novamente o grupo de amigos Spencer (Alex Wolff), Fridge (Ser’Darius Blain), Martha (Morgan Turner) e Bethany (Madison Iseman), que são forçados a regressar ao jogo. Mas desta vez não estão sozinhos, já que o jogo também juntou o avô Eddie (Danny DeVito) e o seu amigo Milo (Danny Glover) aos jovens e os seus avatares.
Mas nada está como antes e existem corpos trocados. Eddie está no corpo do Dr. Smolder Bravestone (Dwyane Johnson), enquanto que Fridge está no corpo do Professor Shelly (Jack Black) e Milo no corpo de Mouse (Kevin Hart). Apenas Martha se manteve no corpo de Ruby Roundhouse (Karen Gillan), causando assim alguma confusão. Spencer está perdido algures no meio do jogo e cabe a eles salvarem-lhe a pele.
Só com esta diferença a mudar a dinâmica entre as personagens é exactamente o que esta sequela precisava, já que os grandes actores são forçados a interpretar as novas pessoas que lhes estão a controlar, sobretudo na forma como falam. Ver Dwayne Johnson a imitar a forma como Danny DeVito anda e fala, é mais divertido do que se possa pensar, e o filme utiliza todos estes recursos a seu favor.
Por outro lado, esta nova aventura não envolve apenas a busca de Spencer, mas também do resgate de uma jóia mágica, que concluindo a sua missão, lhes levará de volta ao mundo real. Pelo meio terão que enfrentar Jurgen the Brutal (Rory McCann), que preza pela destruição.
São muitos os momentos de comédia, que vão desde vermos Kevin Hart a estar genuinamente assustado com animais, a piadas sobre velhice e tudo aquilo que a idade pode trazer, entre muitas outras coisas. Entretanto, a aparição de um novo avatar, Ming (Awkwafina), mostra que este mundo está mais que preparado para introduzir novas personagens com facilidade, sem que as coisas pareçam novas e estranhas.
Assim, Jumanji: O Nível Seguinte mantém o selo de qualidade, estando ao nível do primeiro filme, com um balanço positivo entre avatares, aventuras e comédia. Ainda que por vezes se estende um pouco em algumas cenas, as coisas geralmente resultam bem, dando novamente nada mais que uma tarde divertida no cinema.
Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)
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8 de dezembro de 2019
Daniel Isn't Real | Daniel: Amizade Aterradora (2019)
O segmento "New Year's Eve", realizado por Adam Egypt Mortimer, é discutivelmente o melhor da antologia de 2016, onde a subversão de papéis contra um mundo misógino. Desta forma, Mortimer parece estar mais que preparado para mostrar o seu talento num filme que tem feito furor no circuito de festivais do género, com Daniel: Amizade Aterradora.
Luke é um rapaz que sofre de alguns males mentais, resultado de um conjunto de traumas vindos do divórcio dos seus pais e visto o corpo morto de um assaltante. Para ajudar a lidar com os seus sentimentos, eis que Luke conhece Daniel, um amigo imaginário que está lá para ajudar, até que certo dia incentiva Luke a matar a sua mãe, forçando-o a fechar o seu amigo numa velha casa de bonecas.
Anos mais tarde e Luke (Miles Robbins) é um estudante na faculdade, prosseguindo uma vida relativamente normal, excepto quando tem episódios de desmaio. A conselho do seu terapeuta, Luke liberta Daniel (Patrick Schwarzenegger) da casa, com o objectivo de contar com a sua ajuda na sua nova fase na vida.
Quando é visto na sua essência, a ideia do poder perigoso que os amigos imaginários têm sob nós, sobretudo com a sua influência, é mais que suficiente para dar gás a um thriller intenso. Aqui, a ideia é amplificada com um duo completamente sem qualquer tipo de restrição, enquanto vemos Daniel a trazer ao de cima o melhor de Luke, dando-lhe mais confiança em si mesmo e oferecendo o que parece ser uma vida melhor. Mas de boas intenções está o inferno cheio e Luke não se apercebe que Daniel ainda tem uma agenda pessoal e vai utilizar o seu amigo para obter aquilo que quer.
Este mergulho na psicologia do imaginário e a filosofia de quem somos versus quem queremos ser, prova que escondemos na nossa mente os demónios mais letais e que a sua influência tem consequências muito reais se acatarmos as ordens da voz na nossa cabeça. Neste caso, vemos uma espécie de Dr. Jekyll e Mr. Hyde de uma era moderna, num coming-of-age onde a descoberta de si próprio providencia momentos de algum terror, sobretudo no que toca à relação entre a dupla, ambos com personalidades fortes, dentro da sua individualidade.
Assim, Daniel: Amizade Aterradora não é um filme perfeito, já que o seu problema principal é a sua incapacidade de criar uma tensão entre as cenas e não dar espaço à narrativa para que alguns momentos sejam deixados à imaginação do espectador, algo que poderia beneficiar em grande parte, tendo em conta a sua temática. Adicionalmente, algumas das suas personagens secundárias, sobretudo femininas, não contribuem grande coisa para a história, servindo, infelizmente, como uma mera distração para o ponto principal e merecedoras de um lugar melhor.
Apesar de tudo, a sua abordagem à ideia de amigos imaginários, ainda que adaptados do livro "In This Way I Was Saved" de Brian DeLeeuw, é de louvar, sobretudo durante o último terço do filme. Isto, juntando dois jovens actores e um orçamento modesto, existe aqui muito por apreciar. Ou isso, ou talvez esteja a imaginar tudo...
Nota Final: 3.5/5
21 Bridges | 21 Pontes (2019)
O cinema de acção com histórias originais q.b. têm visto um ressurgimento como não se via desde dos anos ’90, contidos na sua duração e sem intenções de criar franquias para se estenderem durante os próximos anos. Talvez um dos grandes líderes dessa altura fora o produtor Jerry Bruckheimer, que definiu actores como Nicholas Cage, Will Smith, John Travolta, entre muitos outros, como os grandes heróis. Hoje, o panorama é diferente e após o enorme sucesso de Vingadores: Guerra do Infinito e Vingadores: Endgame, a dupla de Joe e Anthony Russo produz 21 Pontes, um filme que mostra que Chadwick Boseman é muito mais que um vingador.
Andre Davis (Boseman) é um detective de Nova Iorque, que segue as pegadas do seu pai, morto durante o serviço. Com uma bússola moral a guiar as suas acções, Andre é posto sob investigação mais uma vez, já por ter mais 8 mortes causadas durante a sua carreira. Do outro lado da cidade, dois criminosos, Michael Trujillo (Stephan James) e Ray Jackson (Taylor Kitsch) assaltam um bar, surpreendidos por encontrarem 300 quilos de cocaína. As coisas correm mal quando a polícia aparece e é morta num tiroteio com os dois assaltantes. Cabe agora a Andre investigar a morte dos seus colegas e ordena que fechem as 21 pontes que dão entrada e saída da ilha de Manhattan, até que os criminosos sejam capturados.
Pondo de parte o facto que a produção do filme demorou tanto tempo que o título original era 17 Pontes, existe aqui um filme com um nível aceitável de entretenimento sem grandes pretensões de ser algo super misterioso ou intrigante. Estamos perante um filme onde cada reviravolta, por mais previsível que seja, tem o objectivo único de mover com a história. Mesmo momentos em que parece encaminhar por um caminho inteligente, os mais atentos rapidamente apanham a ideia que é revelada mais tarde, felizmente sem o espectador sentir que foi roubado. Para melhor ou pior, esta estreia de Brian Kirk no cinema não é de todo má, já que realizou diversos episódios de séries de televisão com elemento cinemáticos, como Luther e Game of Thrones.
A narrativa, não apresentando nada de novo, dá um foco maior às personagens, sobretudo a Boseman que mostra uma postura calmamente agressiva na sua busca pela justiça, acompanhado pela detective de narcóticos Frankie Burns (Sienna Miller), que apesar de não serem inteiramente compatíveis, mal também não fazem. É de mencionar que J.K. Simmons também integra o elenco como um dos capitães da polícia a gerir o caso, mas a sua aparição não é explorada ao nível do seu talento.
Assim, 21 Pontes traz para 2019 todo um estilo adaptado do cinema de acção feito há 20 anos, onde vemos Chadwick Boseman a ser, o que esperemos nós, um dos nomes associados a heróis de acção modernos fora da esfera de super-heróis, num filme com um aproveitamento aceitável.
Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)
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Originalmente publicado em Central Comics a 8 de Dezembro de 2019.
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