8 de fevereiro de 2019

Braid (2018)


Numa altura em que criadores de cinema independente têm que recorrer a medidas inovadoras para financiarem os seus projectos, eis que Mitzi Peirone, defensora árdua da sua visão única, recorreu à criptomoeda para angariar financiamento para a sua estreia nas longas-metragens como escritora e realizadora, tendo inclusive, recusado dinheiro de produtoras que queriam alterar aquilo que tinha em mente. O risco compensou, com Braid ser uma das experiências mais incríveis de 2019.

Petula (Imogen Waterhouse) e Tilda (Sarah Hay) são duas raparigas em fuga, após a polícia ter apreendido as suas drogas para venda. Desesperadas, elas vão ao encontro da sua amiga de infância, Daphne (Madeline Brewer), uma jovem rica, em busca do dinheiro dentro do seu cofre e pagarem a quem devem. Excepto, que nem tudo é o que parece...


As coisas ficam muito bizarras, muito rapidamente, com o tom do filme a ser uma mescla de estilos de realização distintos, o que faz tudo parecer uma enorme trip que não conseguimos acordar. Mesmo assim, somos discretamente pedidos para nos deixarmos levar por esta estranheza, que beneficia pelo facto dela ser inesperada e orquestrada por Peirone duma forma pensada ao mais ínfimo detalhe, com o propósito de mexer com algo em nós.

Por momentos não podemos deixar passar as várias cenas que parecem inspiradas por Dario Argento, seja no uso de várias cores como em Suspiria, seja no estado de sonho que Braid vive permanentemente; ao qual se juntam actuações teatrais num exercício de estimular a expressão do corpo e da mente.


O facto de Peirone estar ser a responsável pela criação e não tendo qualquer responsabilidade senão perante si e os seus actores, mostra-nos uma liberdade criativa que não será bem digerida por todos, já que a forma pouco convencional de contar esta história sobre três amigas, em cenas cuidadosamente preparadas, oferecem um mundo imaginativo que nos deixa pouco confortáveis quando a brincadeira se torna séria.

Braid é o tipo de filme que sorrateiramente aparece quando menos esperamos, estando no lado mais alternativo do cinema independente, quatro raparigas a encararem o que possivelmente são os nossos piores medos e a explorarem-no como muitos poucos auteurs são capazes de o fazer. Vale a pena ficar atento ao que Mitzi Peirone fará a seguir, pelo que a sua capacidade de surpreender é, pelos vistos, inata. 

Convém é não confundirem a realidade com os sonhos, ou será a realidade apenas um longo sonho?

Nota Final: 4.5/5

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