30 de setembro de 2018

Billionaire Boys Club | O Clube dos Bilionários (2018)


Em 2013, Leonardo DiCaprio e Martin Scorsese lançaram o mundo O Lobo de Wall Street, um filme que desde do primeiro dia tem um estatuto especial por ser uma das melhores obras cinematográficas modernas.

Histórias de correctores enganarem pessoas comuns para ganharem dinheiro não são novidade, mas eis que aparece mais um conto de como meia dúzia de jovens a pensaram que descobriram a pólvora, com O Clube dos Bilionários.


Joe Hunt (Ansel Elgort) é um rapaz inteligente, capaz de ver a grande imagem da vida que tem pela frente, quando este se junta a Dean (Taron Egerton), um velho amigo de escola, na criação dum esquema de investimento para fazerem dinheiro rápido. Mas claro, estas histórias raramente correm bem e esta certamente não correu de todo.

Apesar de ser baseado numa história verídica, a recriação realizada por James Cox falta-lhe várias coisas importantes, sobretudo no que toca em mostrar uma narrativa com ambição e um sentido de risco elevado. Sendo que este filme não tem nada disso, resta-nos apenas deixar-nos levar até que chegue o fim do filme para seguirmos a nossa vida.


No elenco, Elgort e Egerton saem deste filme sem a reputação manchada, ainda que os papéis lhe assentam bem, juntamente com Emma Roberts, que um dia terá o mesmo reconhecimento em cinema como na televisão. Mas é Kevin Spacey que é a ovelha negra no meio disto, ainda que esteja mais no fundo do cenário. Considerando os acontecimentos que acabaram com a sua carreira, é deveras estranho vê-lo no ecrã sabendo o que se sabe hoje, num papel que não favorece a imagem negativa que tem de momento.

Com isto, não vos convido a pertencerem a este Clube dos Bilionários, onde não apenas irão perder dinheiro; perdem tempo.

Nota Final: 1/5 (originalmente 2/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 30 de Setembro de 2018

29 de setembro de 2018

Peppermint (2018)


Jennifer Garner regressa ao grande ecrã, novamente no papel duma mulher num filme de acção, coisa que já não acontecia há muito.

Foi na televisão que a actriz ganhou o estatuto de ser uma das grandes mulheres-de-armas, com Sydney Bristow em ALIAS – A Vingadora, que ao virar do milénio tomou de assalto o género de acção, ao lado de Kiefer Sutherland em 24.

Mas, passados tantos anos, será que Garner ainda tem o que vale? Bem, sim e não.


Em Peppermint, Garner é Riley North, uma mulher de família que faz tudo o que pode para que a sua filha Carly e marido, Chris (Jeff Hephner), tenham a melhor vida possível. Durante uma visita à feira de Natal local, Carly e Chris são mortos a tiro por um gang, enquanto que Riley fica gravemente ferida.

Depois da sua recuperação, esta consegue identificar com sucesso os assassinos daquela noite, mas um juiz corrupto permitiu que saiam ilesos. Por consequência, Riley jurou justiça e não descansa até todos os envolvidos estarem mortos.

Há três pontos importantes a considerar em Peppermint: A realização de Pierre Morel, que trouxe de volta ao estrelado Liam Nesson com Busca Implacável e que está a tentar fazer o mesmo com Jennifer Garner; o argumento de Chad St. John, que à parte deste filme, tem no seu currículo a sequela Assalto a Londres e… uma curta do The Punisher? O que me leva ao terceiro ponto: Sim, St. John escreveu a curta The Punisher: Dirty Laundry que surpreendeu tudo e todos quando foi exibido com algum secretismo durante a San Diego Comic Con em 2012.


Tudo isto é relevante para se compreender o caminho que levou até Peppermint, pondo a experiência de Riley North ao lado do nosso amigo do bairro Frank Castle, as semelhanças são mais que óbvias.

Apesar do percurso de Riley ser diferente, a mesma tirou 5 anos da sua vida para treinar artes marciais, aprender a disparar armas de assalto e matar de forma criativa todos os que falharam o sistema judicial.

Por mais sucesso que ela tenha, estamos perante um filme que todos elementos de anti-herói por uma causa, mas onde não conseguimos empatizar a onda de violência causada, mesmo que não exista nada maior que o amor de uma mãe. Neste caso, é um amor com balas, armamento militar e facas. Onde já vimos isto antes?


Com isto, resta-nos quase duas horas de violência gratuita, bocejos dramáticos quando somos relembrados da sua causa e uma vontade inerente de considerar se esta é a verdadeira mostra de igualdade de direitos. Spoiler alert: Não é.

Nota Final: 1/5 (originalmente 2/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 29 de Setembro de 2018

28 de setembro de 2018

Mandy (2018)


Passado 8 anos desde da sua estreia com o incrível Beyond The Black Rainbow, o visionário Panos Cosmatos regressa com um filme que nos últimos meses tem feito furor no circuito de festivais e impressionado toda a gente que passaram os olhos.Um autêntico festim de vingança onde Nicholas Cage está no centro.

O ano é, novamente, 1983 (o mesmo ano onde decorre o seu filme prévio), e Cage é Red, um lenhador que vive sossegado e em paz com a sua amada Mandy (Andrea Riseborough), uma artista de criaturas fantásticas que só usa T-shirts de bandas de metal. Ambos vivem numa cabana perto do rio em Shadow Mountains.
Um dia, Mandy é vista por Jeremiah Sand (Linus Roache), líder dum culto de hippies chamado Children of The New Dawn. Jeremiah fica impressionado com a forma da Mandy e ordena que a tragam até si. Assim, Mandy e Red são então raptados por um gangue de motoqueiros demoniacos, adoradores de carne humana e LSD, em troca de uma recompensa.


O culto assassina Mandy por não se submeter às maneiras da seita religiosa, com Red a testemunhar tudo e deixado vivo para que passe o resto da vida com a imagem na cabeça. Com ajuda de um LSD potente e uma motivação com nada a perder, Red entra num ciclo de raiva onde a vingança é o único item da sua lista.

Cosmatos continua assim a sua obra visual, repleta de detalhes, desde os enquadramentos da imagem, à constante iluminação vermelha que pinta este filme, como também às várias formas e texturas visuais que completam os planos. É muito para processar.


Uma das cena mais interessantes da película é como Cosmatos faz a introdução do culto, apenas mostrando por meros segundos as suas caras individualmente e as suas expressões faciais, percebemos que não precisamos de mais informação para saber que são os maus da fita e que são uma ameaça.

Vê-se aqui o tributo a grandes auteurs do cinema, como Stanley Kubrick e John Carpenter, mas também outros meios da cultura-pop, principalmente a revista Heavy Metal, conhecida pelas suas histórias e ilustrações de fantasia. A isto se junta uma banda sonora com os tons negros do doom metal, cortesia do compositor islandês Jóhann Jóhannsson, falecido a Fevereiro deste ano, a quem o filme é dedicado.


Assim, vemos neste filme o derradeiro Nicholas Cage louco, algo que Cosmatos quis muito fazer e que é um autêntico sucesso. Entre uma narrativa onde a acção não é abordada da forma comum, uma mistura de drogas e uma incrível luta de moto-serras, Mandy é definitivamente um dos melhores filmes dos ano, senão o melhor, confirmando que o génio de Panos Cosmatos será, ironicamente, um de culto nas próximas décadas.

Nota Final: 5/5 (originalmente 10/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 28 de Setembro de 2018

27 de setembro de 2018

Night School | A Turma da Noite (2018)


Nos últimos anos, Kevin Hart tem sido uma referência cómica por Hollywood. Vê-se, por exemplo, o seu protagonismo em grandes blockbusters como o recente Jumanji: Bem-Vindos à Selva, ou o facto de ser o primeiro comediante a esgotar um estádio de futebol americano, com lotação de 102.000 fãs, para um espectáculo de stand-up.

Hart regressa assim ao grande ecrã, ao lado de Tiffany Haddish, em A Turma da Noite, numa comédia realizada por Malcolm D. Lee.


Em A Turma da Noite, Hart é Teddy, um homem vê a sua vida parada porque não concluiu o secundário, tendo que ir agora atender às aulas pós-laborais de Carrie (Haddish), e fazer o derradeiro teste que lhe dará equivalência. Claro que entretanto, Teddy tem tido uma vida extravagante, acumulando dívidas para se mostrar financeiramente capaz à sua namorada, Lisa (Megalyn Echikunwoke).

Enquanto que Hart, pelos vistos, aprendeu a fazer pouco da sua baixa altura (ele mede 1,63m), as piadas fáceis são uma constante e nem sempre funcionam. Mais, todo o caminho em direcção à lição de vida que Teddy tem que passar, é inteiramente desnecessária, insistindo em bater na mesma tecla vezes sem conta para chegar ao mesmo resultado.


A isto se junta uma ensemble repleta de personagens-tipo, como Theresa (Mary Lynn Rajskub), uma mulher que foi mãe em jovem e não terminou o 12º devido à gravidez; ou Mila (Anne Winters), uma rapariga que teve que escolher entre ir para o reformatório ou fazer o teste e ir para a faculdade. Ainda assim, a ideia de Carrie ser a professora durona, sem tretas mas com um coração de ouro, raramente funciona como suposto, enquanto que por outro lado, é sempre bom ver Ben Schwartz, aqui como o melhor amigo de Teddy e Taran Killam, como o director da escola.


Surpreendente é constarem 7 nomes na lista de argumentistas no desenvolvimento deste filme, praticamente todos eles envolvidos em filmes de comédia mais interessantes que este, parecendo que todas as ideias foram fruto dum grande trabalho de grupo de escola. Em 1995, bastou a dupla de Adam Sandler e o seu colaborador frequente, Tim Herlihy, para escreverem um dos filmes mais cómicos dos anos ’90, sobre um adulto que tem de ir às aulas: Um Milionário na Escola. Passados 23 anos, esperava-se muito melhor do talento presente hoje em dia.

Assim, A Turma da Noite é um filme perfeito para aqueles domingos preguiçosos no sofá e não encontramos o comando, onde o pior que pode acontecer é rirem-se um bocadinho. Mas não muito.

Nota Final: 1/5 (originalmente 2/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 27 de Setembro de 2018

Beyond The Black Rainbow (2010)


Não é fácil de falar de Beyond The Black Rainbow. Isto porque a estreia do ítalo-canadense Panos Cosmatos é toda ela uma viagem com várias camadas de interpretação, todas elas ao qual nós espectadores, criamos o nosso próprio puzzle para juntar as peças.

Referir-me à sinopse do filme e dizer que é sobre Elena (Eva Allen), uma rapariga muda, encurralada na Arboria Institue, uma comuna isolada e futurista enquanto que o Dr. Barry Nyle (Michael Rogers), abusa da mente dele como o demente que é, seria apenas tocar a superfície da obra de Cosmatos, que é muito, muito mais sobre ela. O ano é 1983 e tudo o que se sabe sobre este mundo é que nem tudo é o que parece, nem tudo o que se vê é real.


Durante quase duas horas, somos levados numa viagem dum sonho onde todos os planos são importantes, repletos eles de detalhes intricados, seja na sua cor ou na textura, como também uma realização claustrofóbica que nos abre a oportunidade de entrarmos em trance. A isto se adiciona uma banda sonora hipnótica, autoria de Jeremy Schmidt da banda de rock Black Mountain; uma cinematografia gentilmente dedicada e diálogos que revelam algumas das pistas daquilo o que poderá estar a acontecer, cabendo a nós interpretar o que poderá ser verdadeiro ou não.

Abordando temas que vão desde da religião, ao ocultismo, à identidade de si mesmo, estamos perante um ensaio de uma criação influenciada por várias outras obras cinematográficas, desde do óbvio, 2001: Odisseia no Espaço de Kubrick, ao mais obscuro O Guardador do Mal de Michael Mann. Mas essa mesma identidade está aqui a ser criada, sendo a primeira obra que Cosmatos escreve e realiza, certamente que não existe melhor introdução. Existem muitas outras influências, todas elas a contribuírem positivamente para que este imaginário seja o mais memorável possível.


Tudo o que Beyond The Black Rainbow traz, contribui para o sonho imersivo que Cosmatos quer que experienciamos. Enquanto poderão achar pretensioso a direcção nuanceada e, de facto, vaga que este tomou; os restantes terão aqui um filme muito diferente daquilo que alguma vez poderiam imaginar. Não será um visionamento que irá agradar a todos, mas certamente terá um valor para ser visto múltiplas vezes e fazer uma interpretação pessoal. Podemos nunca saber o que este filme é realmente sobre, mas teremos sempre os nossos pensamentos.

No fim, Beyond The Black Rainbow é uma trip que vale bem a pena experienciar vez uma e outra vez. Até lá uma coisa vos garanto: Panos Cosmatos será lembrado pela sua visão extraordinária e, até ver, da sua filmografia se os seus filmes seguirão esta linha de criatividade.

Nota Final: 5/5

19 de setembro de 2018

Final Score | Golpe Final (2018)


Continuam a ser muitos os filmes de acção que exploram continuamente todos os elementos clássicos do género, com tiros, explosões e one-liners, tal como eram os anos ’80 e ’90.

Golpe Final é um desses, mas não é mais um no meio de muitos.

Quando Michael Knox (Dave Bautista), um ex-soldado visita a família do seu falecido amigo militar, este leva a filha dele para o último jogo a decorrer no Boleyn Ground, o famoso estádio britânico do West Ham United. As coisas dão uma reviravolta quando se vê numa missão para proteger os 35,000 fãs a frequentar o evento, pois existem terroristas em busca dum homem que presumiam como morto.


Primeiro, é importante referir que este filme existe porque o estádio estava previsto ser demolido e o realizador, Scott Mann, viu uma oportunidade incrível para aproveitar a deixa e incluir cenas alucinantes.

Dito isto, todas as comparações com com o clássico Assalto ao Aranha-Céus, com Bruce Willis, são completamente válidas, mas não que isso lhe impeça de brilhar com todas as suas cenas de acção irreverente e as suas personagens bi-dimensionais.

Apesar de tudo, o grande destaque vai para Bautista, que entre as suas aparições em filmes de orçamentos em ambos lados do espectro, vai conseguindo deixar para trás a ideia de wrestler-tornado-actor, tal como The Rock tem feito há quase década de meia. Da mesma forma que os veterano Ray Stevenson e Pierce Brosnan já sabem bem aquilo em que estão envolvidos, naturalmente representando com toda a fidelidade as personagens-tipo que vestem a pele.


Atrás estão uns tantos outros ditos capangas estereotipados até mais não, sem esquecer um homem maior que Bautista e tatuado dos pés à cabeça, que claro, envolvem-se numa luta mano-a-mano, desta vez numa cozinha, onde o uso de utensílios é bastante criativo.

São várias as cenas de acção, todas elas bastante entusiasmantes, enquanto vibramos com um jogo de futebol a decorrer como pano de fundo, onde acabamos por poder simplesmente apreciar todos os aspectos deste Golpe Final. Sejam os tiroteios, as teias da conspiração ou os diálogos à macho, há aqui um pouco de tudo para que possa ser apreciado, incluído uma fabulosa cena de mota! E explosões, muitas explosões.


No fim, só há um grande vencedor no meio disto tudo e é o Boleyn Ground, que terminou a sua vida numa nota alta antes de ser demolido e que agora o terreno irá dar lugar a um condomínio fechado…

Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 19 de Setembro de 2018

13 de setembro de 2018

Boom for Real: The Late Teenage Years of Jean-Michel Basquiat | Boom for Real: A Adolescência Tardia de Jean-Michel Basquiat (2018)


Jean-Michel Basquiat foi um dos grandes artistas numa fase em que Nova Iorque estava à beira do colapso. Visto como um poeta e um artista de graffiti por alguns, por outros ele era algo completamente diferente.

É assim que Sara Driver aborda o legado do artista antes da sua fama, em Boom For Real: A Adolescência Tardia de Jean-Michel Basquiat.



Há um certo mistério, não apenas sobre Basquiat, mas como também a cena artística de Nova Iorque nos anos ’70 e ’80, onde a ressurgência do punk rock, do hip hop e new wave marcaram a música e todo o movimento que com ele levou.

Sem-abrigo, a tela de Basquiat eram as ruas da cidade, onde criou inicialmente a marca SAMO (de Same Old Shit), que rapidamente deixou uma impressão em todos que reparavam nas suas obras. Mas este não era só um génio com as palavras.


Ao longo da sua carreira inicial, dito carreira que passou como desconhecido, Basquiat aventurou-se através doutros meios e outras técnicas, agarrando sempre a inspiração quando lhe surgia.

É através das vozes de amigos e conhecidos do artista que o conhecemos duma forma bastante íntima, desde histórias que revelam a sua personalidade peculiar, a como este interagia com a cena artística criada nos bairros pobres e abandonados duma das maiores cidades do Mundo.


Toda esta história é contada duma forma crua e bastante honesta, que juntamente com várias fotografias e vídeos nunca antes vistas, pintam uma imagem do homem e da sua mente criativa.

Infelzmente, Basquiat faleceu com 27 anos, devido a uma overdose de heroína, porém o filme afasta-se por completo desse aspecto, deixando assim uma oportunidade de ficarmos com a impressão correcta do legado de Basquiat, como um artista verdadeiramente talentoso e único.

Nota Final: 4/5 (originalmente 8/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 13 de Setembro de 2018

4 de setembro de 2018

Mile 22 (2018)


Um dia, vocês irão ler neste blog uma crítica minha de uma comédia romântica ou qualquer outra coisa lamechas. Mas hoje não é esse dia. Hoje é um dia em que vos irei falar de um filme feito com milhares de balas: Mile 22.

Com a silly season do Verão a terminar, eis que Peter Berg, mais conhecido como o realizador que mais trabalho dá a Mark Wahlberg, aparece em cena com um filme que desta vez não é baseado em factos verídicos.

Quando Li Noor (Iko Uwais), um polícia indonésio aparece à porta da Embaixada dos Estados Unidos, munido de um disco rígido que contém a localização de material nuclear roubado, pede, em troca da palavra-passe que o desbloqueia, asilo. Para isso, uma equipa especial secreta, constituída por James Silva (Mark Wahlberg), Alice Kerr (Lauren Cohen), Douglas (Carlo Alban) e Sam Snow (Ronda Rousey), tem como missão levar Li até ao aeroporto onde estará o avião que o irá extrair do país,  a 22 milhas da embaixada.

Claro que num filme de escolta, as coisas nunca correm conforme o plano e existem diversos obstáculos que irão fazer tudo para que as personagens não cheguem ao seu destino.


O que vem a partir daqui são muitas balas e cenas de acção umas atrás das outras, com quase hora e meia de cenas em que há cortes demasiado rápidos, ao ponto de se perder quem é quem e o que realmente estão a fazer. Mesmo durante os momentos mais dramáticos, há uma vontade descabida de andar aos tiros ou à porrada, como se isso resolvesse tudo. Neste filme, às vezes resulta...

O grande ponto alto é mesmo Iko Uwais, mais conhecido pelo seu talento nas artes marciais, tanto como actor em filmes como The Raid, onde também é coreógrafo de muitas das cenas de luta. O parecer natural desviar-se de armas brancas e retaliar meramente com as suas mãos e pés é incrível de se ver no grande ecrã e certamente demonstra o quão bom ele é.

Do outro lado temos... Bem, o resto do elenco, que não são mais que cópias de personagens-tipo que já foram mais que vistas pelos mesmos, com excepção de Mark Wahlberg, que desta vez tem um tique de puxar um elástico no pulso porque é sobredotado. Foi algo falado durante a montagem nos créditos iniciais, mas de relevância para o desfecho do filme, zero. Deixem lá o homem fazer o que faz melhor que é acertar cada tiro cada melro como o bom soldado que é.

No fim, temos um filme de acção que tinha tudo para que fosse decente acima da média, apesar da ideia não ser nova, teve uma abordagem diferente daquilo que já se fez antes, como 16 Blocks (2006) com Bruce Willis.

Nota Final: 2/5

Originalmente publicado em Cinema à Rolha a 3 de Setembro de 2018.

2 de setembro de 2018

BlacKkKlansman | BlacKkKlansman: O Infiltrado (2018)


Numa altura em que a política norte-americana se encontra numa situação frágil, devido ao presidente eleito Donald Trump, eis Spike Lee, o único realizador capaz de providenciar uma crítica objectiva e ao mesmo tempo oferecer um filme cujo valor de entretenimento é alto e nos traz o que poderá ser um dos filmes mais importantes da geração: BlacKkKlansman: O Infiltrado.

O ano é 1979 e Ron Stallworth (John David Washington, filho de Denzel Washington) é o primeiro polícia negro no departamento policial em Colorado Springs. Ambicioso, ao encontrar um anúncio do grupo Ku Klux Klan no jornal, decide ligar para o número e fazer-se passar por um defensor da raça ariana, com o objectivo de infiltrar o grupo.

Naturalmente, Stallworth não o poderá fazer ele próprio, tendo que recorrer ao seu parceiro Flip Zimmerman (Adam Driver), que irá o representar fisicamente, criando um duo que tem que trabalhar em conjunto se querem que o caso tenha sucesso.


É de loucos pensar que isto é apenas o inicio duma história baseada em factos verídicos, ou como Lee diz, “based on some fo’ real s***“, mas rapidamente percebemos que a vida é mais estranha do que a ficção.

A conotação cómica num filme denso de drama é um dos pontos altos do filme. Há vários momentos em que o espectador se sente tão pasmado que a reacção natural será rir, como em momentos onde ouvimos David Duke (Topher Grace), na altura o supremo líder dos KKK, a dizer coisas muito semelhantes que um certo presidente atual duma super potência. Soa-vos familiar?

São muitos os momentos que incentivam a raiva. Raiva esta ser uma reflexão em como nós seres humanos deixamos que o ódio chegue a este ponto; nas coisas que foram construídas na base do nosso passado tumulto e como estamos a reagir hoje perante ao fanatismo de nacionalistas.


Tudo isto é reforçado com várias peças do panorama, desde a cena da guerra civil em E Tudo o Vento Levou, ao clássico de 1915 O Nascimento de Uma Nação, que, para quem não conhece, é um filme de três horas sobre a criação do KKK, ao qual é considerado uma obra importante para este grupo.

Se por um lado Washington continua e muito bem o legado do pai, Driver mostra que o seu talento vai muito para além da saga da Guerra das Estrelas.

É graças também à realização de Spike Lee, que está sempre um passo à frente da sua narrativa e que conta esta história duma forma visualmente cuidada, sem qualquer indício de ser pretensioso.


No fim, BlacKkKlansman: O Infiltrado são 2h10m da derradeira crítica social ao que temos entre mãos hoje: Um mundo que parece não aprender dos seus erros, preferindo repeti-los. Só espero é que daqui a 20 anos olhemos para este clássico mais como uma comédia do que um “agora”.

Nota Final: 4.5/5 (originalmente 9/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 2 de Setembro de 2018