Se existe algo que aprendemos sobre as redes sociais é que é tudo, no fundo, um jogo de números que brincam com a nossa auto-estima, num mundo que parece ser um concurso de popularidade permanente, em busca da atenção dos nossos pares. O realizador Eugene Kotlyarenko e popular actor Joe Keery, mais conhecido pelo seu na série da Netflix, Stranger Things, juntaram-se para mostrar uma das histórias mais negras que apenas poderia ser fruto das consequências da obsessão pelas redes sociais.
Em Spree, conhecemos Kurt Kunkle aka kurtsworld96 (Keery), um jovem condutor para a aplicação Spree, enquanto tenta fazer sucesso na internet com os seus vídeos e os seus memes. Encontramos Kurt no pico da sua fama, a chegar aos 10 seguidores simultâneos dos seus directos no LiveFly, mas está tudo prestes a mudar, quando este revela o projecto da sua vida, chamada #TheLesson (#ALição).
Apresentado como um caso de "pior cenário possível" de o que é ser um influencer, esta reviravolta perversa, que envolve tortura e homicídio sem escrúpulos, o nosso maior mal é não conseguirmos desviar o olhar desta personagem terrível e as suas acções condenáveis, fazendo de nós cúmplices das suas acções grotescas. Na verdade é fácil cair pelo charme de Kurt, um rapaz que parece tanto quanto inofensivo quanto todos aqueles "criadores de conteúdo" que vemos diariamente nas redes sociais e fazem parte da nossa cultura actual.
Claramente, Kurt tem problemas mentais que lhe tornam insensível perante os seus jogos perigosos, desde envenenar as águas oferecidas a passageiros, como simplesmente insultar e agredir até que deixem de fazer barulho, todas as cartas estão em cima da mesa. Longe de ser uma espécie de antologia, Spree acaba por arranjar uma narrativa que aparece de uma forma minimamente orgânica, mas que rapidamente se transforma em algo demasiado bom para ser verdade, envolvendo uma comediante com um enorme número de seguidores, entre outras personagens que contribuem para a sua fantasia psicótica.
Keery é brilhante a encarar a versão web do que apenas poderíamos chamar de Diabo, cativando-nos de forma que seja impossível desligar o ecrã, levando-nos numa viagem relativamente emocionante, com alguns pontos altos. Infelizmente, a sua crítica social sobre a futilidade das redes sociais, e o que podem conduzir alguém a fazer, por vezes também ele cai no seu próprio veneno, ao nos apercebermos que não sabemos muito mais sobre a história de Kurt. No entanto, tal como na vida real, a ideia que temos dos influencers é baseada, em grande parte, apenas naquilo que eles mostram em público e não na sua vida integral, pelo que é um aspecto que é passável ao lado.
Com isto, Spree raramente se distrai com a sua narrativa a ser contada num formato diferente do usual, algo que em cenas acaba por ser melhor conseguido mais tarde no filme, com um dos assassinos mais queridos do cinema de terror; onde garantidamente será a única obra onde irão ver alguém a morrer ao som do Ursinho Gummy. Maravilhoso!
Nota Final: 3.5/5
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