29 de setembro de 2020

Antebellum | Antebellum – A Escolhida (2020)



Em 2017, Jordan Peele abriu as portas para um sub-género dentro do cinema, com Foge, classificado como algo entre o drama e o terror (ou a comédia e o musical, caso estejam a ser considerados para os Globos de Ouro), onde a crítica política-social demonstrou um cenário de análise do racismo no Estados Unidos. Esta abertura permitiu que um dos seus produtores, Sean McKittrick, seguisse o seu reportório recente, juntando-se à dupla de argumentistas e realizadores, Gerard Bush e Christopher Renz, que se estreiam nas longas-metragens em Antebellum – A Escolhida.

Pela primeira vez em muitos anos, a impressão conflituosa entre o filme e o seu material promocional, que passam duas ideias muito distintas entre elas, dificulta explicar a narrativa de uma forma que não revele a sua reviravolta. Mas é possível descrever o filme ao conhecermos Veronica Henley (Janelle Monáe), uma autora com muito sucesso, que se vê numa situação bizarra, ao se encontrar no século XVIII, como uma escrava numa plantação de algodão, em plena guerra civil.


Pondo de parte todo o mistério aparente do filme, é possível dividirmos Antebellum – A Escolhida em alguns momentos minimamente interessantes, sobretudo o seu retrato desconfortável da escravatura dos negros, ainda mais quando temos em conta o seu contexto político-social em pleno ano de eleições nos Estados Unidos; relembrando-nos dos actos cruéis da Confederação e os seus generais. São imagens fortes, intensas e que geram revolta, mas o filme não é só feito deste retrato.

No presente, somos apresentados a Veronica, uma mulher forte, cujo sucesso gera uma discussão, e recebe o ódio dos tais haters, que não podiam fazer falta. No entanto, o filme reduz toda a importância actual a sequências que fingem querer assustar, ou pior, imitar os filmes de terror que tenta invocar nas suas ideias. É igualmente frequente vermos um conjunto de cenas irrelevantes, que quebram o ritmo do filme e nos deixa a pensar como é que existe tempo na sua duração para vermos as muitas interações fúteis, antes de nos atropelar com a reviravolta, que é mais confusa do que propriamente chocante.


Enquanto que Monáe carrega às costas uma obra que a mesma admite catártica, e que é visível durante as quase duas horas de filme; o resto do elenco, Jena Malone e Eric Lange inclusive, não passam de meras desculpas para justificar os actos hediondos que vemos e muito esforçam tirar o pior de nós para fora. Bush e Renz provam que sabem realizar, com uma cena inicial impressionante, e claramente têm boas ideias, sendo é necessário reconhecer que elas o são; mas a sua execução é deitada à terra pelas péssimas decisões executivas, sobretudo na montagem, que arruína a experiência assim que apanharmos em flagrante delito aquilo que o filme está a tentar impor

Antebellum – A Escolhida podia ter sido um filme muito decente, cuja mensagem poderia gritar bem alto para a atenção a ter perante um país que está a passar uma das piores crises políticas da sua história, mas a tentativa de ser mais inteligente cai assim que percebermos que estes momentos têm um valor a nível narrativo praticamente nulo. Talvez aquilo que mais irritação causa é ao aperceber que estas consequências vêm de uma complicação desnecessária de estilo, distraindo da substância razoável que o filme oferece.

Nota Final: 2/5 (originalmente 4/10)

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Originalmente publicado em Central Comics a 29 de Setembro de 2020.

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