Num tempo longínquo, muito antes do Tinder, os serviços de matchmaking era à base de VHS manhosas, onde as pessoas apresentavam-se num curto vídeo, esperando que outro ser humano eventualmente lhes ache interessante. Era assim que se faziam as coisas nos Estados Unidos no inicio dos anos '90, como pano de fundo da estreia de Jon Stevenson nas longas-metragens com Rent-a-Pal.
David (Brian Landis Folkins) é um quarentão solteiro, a viver na cave da casa da sua mãe demente Lucille (Kathleen Brady), da qual ele toma conta. David aparenta ser um homem perdido, sem um objectivo de vida, mas que procura uma alma gémea através do serviço Video Rendezvous. Um dia, David pega numa cassete com o título Rent-a-Pal, um filme onde Andy (Wil Wheaton) é uma espécie de amigo virtual, tendo uma conversa pré-concebida com quem vê. Naturalmente, David sente uma grande ligação por Andy, ou pelo menos esta versão dele; não sabendo o caos que este trará para a sua vida.
Este foco em Andy, o homem na televisão, olhado como um amigo, disposto de estar de braços abertos e ser uma boa companhia para David, preenche-lhe um vazio que, de alguma forma, não consegue na vida real; procurando conforto para a sua mente fragilizada, encontrando-a numa fita. Por outro lado, a encarnação de Wheaton, faz dele talvez um dos vilões mais simpáticos dos últimos anos.
Rent-a-Pal prova assim, ser um conto obscuro sobre um homem em busca de uma forma de felicidade, incapaz de ter sucesso na vida. David vai mais longe, ao partilhar uma história amorosa que lhe correu mal, quando era mais novo e trocava notas com uma rapariga, mostrando-nos como o mundo o castigou. Este momento está inserido numa sequência de 20 minutos onde vemos a relação entre Andy e David a florescer a um patamar quase divino, onde este não consegue ver mais a linha de o que é verdadeiro e o que é virtual, sendo absolutamente arrepiante.
O facto de o filme se passar nos anos '90, também adiciona um contexto retro, abordando um tema que hoje é, grande parte dele, tão impessoal e concentrado nas redes sociais, onde também podemos encontrar exemplos tanto ou quanto extremistas como David a desabafarem sobre como a culpa é das mulheres que são uns falhados, em sítios como chan sites ou fóruns, exprimindo uma frustração de futilidade. Retirada a componente de internet, a parte física fica para trás, mostrando a sua verdadeira personalidade, mesmo quando filme introduz-nos a Lisa (Amy Rutledge), uma possível paixão.
Estamos perante um dos slow-burn mais interessantes do ano, com um bom equilíbrio entre balanço e um terror relativamente discreto, acompanhada por uma banda sonora que perdura na calada da noite, enquanto constrói a sua narrativa para um último acto de levar as mãos à cabeça. Nunca uma cassete causou tanto mal desde Ring - A Maldição.
Nota Final: 4/5
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