19 de junho de 2020

Mope (2020)


Existem histórias verídicas que são mais estranhas que a ficção, algo tão louco que ninguém é capaz de inventar os acontecimentos. Este é o caso de Steve Driver, actor pornográfico tornado assassino em 2010, com um conto tão macabro que Lucas Heyne realizou a sua adaptação, em Mope.

Driver (Nathan Stewart-Jarrett) começa a sua carreira como um actor em filmes de fetish de baixo orçamento, fazendo as coisas que ninguém quer. Ao conhecer Tom Dong (Kelly Sry) durante um dia de gravações, os dois tornam-se melhores amigos e aspiram a chegar ao topo da indústria com os seus talentos. Excepto que Driver não está bem e numa indústria onde as emoções têm que estar controladas, está tudo preparado para um desfecho chocante.


O filme abre com um cartão a ditar que por respeito aos falecidos, Mope irá se manter com os factos; uma abertura intrigante para quem não conhece o caso. Tudo o que acontece depois é um festival grotesco dentro de uma das partes mais sujas da indústria pornográfica, onde as regras de segurança e higiene são menos consideradas em busca de públicos de nichos específicos, das quais não poderão ser mencionados aqui. Isto é visível desde do primeiro momento onde é mostrado o espaço do estúdio, dividido pelas várias salas de trabalho e outros afins, longe de parecer uma operação profissional, muito menos inteiramente legal.

À medida que a narrativa se desenvolve, em altura nenhuma o filme assenta bem connosco, sobretudo enquanto abraça a sua estranheza progressiva durante das quase duas horas de duração, com a história a ficar cada vez mais perbutadora, mas impossível de virar o olhar. De facto, a dada altura esquecemos-nos que isto é baseado em acontecimentos reais, tal é a ousadia rebuscada das personagens, que o filme faz questão em humilhar e odiar profundamente, apagando qualquer intenção de criar empatia por seja quem for.


Enquanto que até o sentimento mais nojento de Mope não ultrapassa, por muito, as linhas morais do que é considerado aceitável (invés o A Serbian Film, que o fez conscientemente, e com orgulho), este brinca muito com a ideia de moralidade do ser humano, tentando utilizar o contexto menos que ideal para passar um conceito emocional, com um conjunto de personagens que têm tanto ódio de si como o filme faz acreditar. A impressão que fica é que tudo seja plausível como o resultado de uma sessão de voodoo sobre estas pessoas, tão alucinante que é.

Com isto, Mope, como filme, é um filme de art-horror disfarçado de complemento de um documentário que talvez há de surgir eventualmente na Netflix, desenhado para contar os factos de forma chocante; apenas não da forma mais entusiasmante. Sair do filme com o estômago às reviravoltas nunca é um excelente selo de aprovação, mas fica ambíguo se o filme faz isso de propósito.

Nota Final: 2.5/5

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