31 de julho de 2019

Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw | Velocidade Furiosa: Hobbs & Shaw (2019)


A saga Velocidade Furiosa está agora a celebrar o seu 18º aniversário com Velocidade Furiosa: Hobbs & Shaw, um spin-off que utiliza o bromance entre o vilão-tornado-aliado, Deckard Shaw (Jason Statham), e o super agente com músculos, Luke Hobbs (Dwayne Johnson) iniciada em Velocidade Furiosa 8, sendo essa a grande desculpa para iniciar esta nova aventura que não conta com nenhuma participação de Vin Diesel.

Quando Hattie (Vanessa Kirby), irmã de Shaw, obtém um vírus mortal, ela é perseguida pelo todo-poderoso Brixton (Idris Elba), um homem com modificações corporais que lhe tornam no “Super-Homem negro”. Forçados a trabalharem juntos contra este mal maior, Hobbs e Shaw terão que fazer tudo para que Brixton não chegue ao seu objectivo, custe o que custar.


O que segue é uma narrativa repleta de momentos nonsense, onde as leis da física são inteiramente ignoradas para o nosso entretenimento. Temos visto uma influência tecnológica nesta saga, que lhe está a afectar fortemente, vindo já de filmes anteriores com a adição da hacker Ramsey no sétimo filme e Cipher no oitavo (e pelos vistos aparecerá no nono no próximo ano). Tudo isto para dizer que Brixton é capaz de ser um dos melhores vilões da saga e, ao mesmo tempo, o menos apreciado, pelo que as suas motivações não são bem explicadas de início, fora o tradicional ir contra a lei e os nossos heróis, pelo que gostaríamos ter visto mais. Não só sobre o que o compõe, como todo o culto tecnológico que o rodeia.

Entretanto somos confrontados com inúmeras sequências, onde a certo ponto fazem este spin-off parecer uma paródia doutros filmes recentemente lançados, ao quase copiar coisas dos vários filmes de Missão: Impossível e Deadpool, este último mais óbvio devido à realização estar a cargo de David Leitch, que também realizou o segundo filme do anti-herói da Marvel. É algo que, francamente, se torna irritante nas pouco mais de duas horas de filme, com a rivalidade entre os dois machos no centro da história, ao ponto de arriscarem o destino do mundo pelo seu orgulho.


Por outro lado, a adição de Hattie é das mais interessantes, com Vanessa Kirby a continuar a sua linha de sucesso, depois de uma grande prestação em Missão: Impossível – Fallout. São, essencialmente a mesma personagem, mas com mais tempo de antena e rouba constantemente o espectáculo. Algo curioso, considerando que o filme é sobre dois brutamontes…

É fácil dizer que este spin-off é exactamente aquilo que esperávamos dele, acabando por desapontar pela sua falta de originalidade, não só numa narrativa de escala global sem a participação da equipa do costume, e consequentemente, a inexistência duma dinâmica mais divertida; mas também pela percepção exagerada que Hobbs e Shaw são capazes de segurar um blockbuster sozinhos, baseando apenas na sua suposta química. Spoiler alert: Não são.


Que seja esta a prova que devemos ter uma noção maior das personagens antes de tomar medidas drásticas, muito porque Shaw, agora tornado aliado, ainda não respondeu pela morte de Han, uma das personagens verdadeiramente amadas da saga. Já se dizia que de boas intenções está o inferno cheio.

Nota Final: 2.5/5 (originalmente 5/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 31 de Julho de 2019.

30 de julho de 2019

Nomis | Night Hunter (2019)



Fazer um policial capaz de cativar a atenção do espectador tempo suficiente e permiti-lo acompanhar a acção ao mesmo tempo que as personagens que estão a investigar o caso é uma tarefa cada vez mais difícil, sobretudo pela esmagadora quantidade de séries televisivas que abordam o género duma forma directa e sucinta, em doses de 45 minutos. É por isso que vale a pena aplaudir o estreante escritor-realizador David Raymond pela audácia de tentar trazer ao grande ecrã Nomis.

Quando Marshall (Henry Cavill), um detective apanha um homicida culpado pela morte de dezenas de mulheres, Simon (Brendan Fletcher), este junta-se a Cooper (Ben Kingsley), um vigilante com uma missão, em perceber o que realmente aconteceu e descobrir a verdade por detrás do psicopata.


Numa cidade fria, onde a neve está espalhada por todo o lado, o mesmo transpõe-se para as cenas que são elas igualmente frias entre elas, seja quando Marshall entra em modo de polícia durão frustrado ou quando a sua colega Rachel (Alexandra Daddario), uma profiler, tenta chegar a Simon através de métodos psicológicos, o esquema parece estar planeado ao mais ínfimo detalhe, algo que é fácil nos passar ao lado com as diversas distracções que o filme nos atira.

O que temos na verdade é um argumento que mostra as suas inspirações policiais, no que poderia ser um piloto para uma série de streaming, com um elenco altamente valioso, onde ainda se juntam Stanley Tucci, e Nathan Fillion. Em todo o caso, é Cavill que se destaca, numa altura em que o actor continua num registo de durão, vindo de Missão Impossível - Fallout. No entanto, é este mesmo argumento que, combinado com visuais que variam entre o cinema europeu e o americano, que Raymond nos propõe uma obra onde a sua única maior falha é talvez ser ambicioso com a forma que o caso é seguido e, subsequentemente, resolvido com a lógica necessária para que seja uma conclusão plausível o suficiente.


Acontece que o procedimento entre as acções de cada um dos jogadores participantes no caso nem sempre se mostram relevantes, sobretudo Cooper como o vigilante bem-feitor, que devido à sua culpa interior pela morte da sua família, o torna num anti-herói que passa a vida a atrair predadores sexuais, fazer-lhes uma operação que lhes impeça de ter uma erecção, e roubar-lhes todo o dinheiro em troca do silêncio deles. Acções destas que são condenáveis mas que são completamente ignoradas pelas autoridades para uma ameaça maior. Neste caso, todo o ensemble de personagens semi-secundárias, que aparecem na linha da frente apenas são necessárias, fazem perder toda a naturalidade duma narrativa que poderia facilmente ter sido mais fluída.


Assim, Nomis prova que uma entrada ocasional no género pode não fazer uma grande diferença, principalmente se jogar pelo seguro, mas tem um valor simbólico pelo esforço feito, o que se traduz num thriller minimamente interessante, onde os bons e os maus mantêm-se pacientemente no seu lugar e a justiça, tal como a vingança, serve-se fria.

Nota Final: 3.5/5

25 de julho de 2019

The Sacrament (2013)


Em Novembro de 1978, o mundo conheceu um dos maiores massacres alguma vez vistas, quando um total de 918 pessoas foram encontradas mortas num agrupamento conhecido por Peoples Temple, um culto que prometia uma vida melhor e independente. Ti West inspira-se, e muito, para mostrar a sua versão destes acontecimentos infernais em The Sacrament.

Quando Patrick (Kentucker Audley) recebe uma carta da sua irmã Caroline (Amy Seimetz), que vive na comunidade remota de Eden Parish, este aborda Sam (AJ Bowen) e Jake (Joe Swanberg), dois colaboradores para o site de notícias VICE, no âmbito de documentarem a experiência na comunidade durante a viagem de Patrick.


O filme é divisível em duas partes, a primeira que estabelece aquilo que estamos a lidar, uma comunidade aparentemente feliz por estar ali, pois caso não fosse pela Eden Parish, provavelmente estariam a viver na rua. A segunda é as consequências da perturbação do seu isolamento por partes destes três visitantes, que lhes indica que existe um mundo lá fora que vale a pena viver.

É realmente uma viagem numa montanha-russa, onde vamos ouvindo alguns testemunhos daqueles que vivem naquela terra e que não têm nada senão gratidão para aquele que chamam de Father (Gene Jones). Mas como esperado, nem tudo é o que aparenta, com os seus seguidores a provarem a sua lealdade ao seu comando, irrompendo a violência.


Ti West mostra-nos esta experiência em primeira mão pelo olhos daqueles que pouco ou nada sabem no que se meteram, fora o preconceito natural que têm perante o termo "culto", com uma oportunidade satisfazer a curiosidade mórbida. Naturalmente que as coisas acabam por correr mal, com um mártir disposto a morrer pela sua causa, mas não sem garantir que aqueles que o amam também sofram o mesmo destino, onde os protagonistas têm que sobreviver os horrorosos ataques.

É numa vertente de found-footage que acompanhamos toda a acção, propondo uma verdadeira sensação que estamos a viver a situação em directo e a cores, destacando a entrevista entre Sam e Father, que marca o inicio do fim. Há muitas cenas grotescas e repletas de violência que poderiam ser classificadas como gratuitas, mas que são eficazes para provarem o ponto da loucura dos seguidores de Eden Parish e aquilo que estão dispostos a fazer, contrariamente ou não.


É com uma extrema fé que vemos a olhos vistos uma culminação duma situação que passou de inofensiva q.b. para o pior cenário possível em meros minutos, num filme que quer proporcionar uma ideia muito real daquilo que aconteceu em 1978, com ligeiras adaptações modernas. É um trabalho bem feito por parte de todo o elenco, que encara tudo duma forma genuína, como de Ti West, que não teve medo de expor um mundo que com certeza existe por aí além.

Nota Final: 3.5/5

23 de julho de 2019

Power Rangers (2017)


A nostalgia é algo que é capaz de apelar o melhor em nós, que somos muitas coisas, mas acima de tudo somos fã de uma coisa da qual temos um grande carinho e que somos capaz de guardar e defender. Depois há aqueles que são os verdadeiros donos dessas mesmas propriedades que deixam outros explorar aquilo que nos é tão querido, onde o cepticismo por ser novo entra em acção. Foi assim que me senti quando o reboot de Power Rangers foi lançado em 2017.

A junção de uma mão cheia de adolescentes com problemas vários, Jason (Dacre Montgomery), Kimberly (Naomi Scott), Billy (RJ Cyler), Zack (Ludi Lin) e Trini (Becky G) são forçados a servirem juntos contra um mal maior em forma de Rita Repulsa (Elizabeth Banks). Sob a ajuda de Zordon (Bryan Cranston) e Alpha 5 (Bill Hader), este reboot dos heróis adaptados do original japonês vêm-se numa situação da qual o único escape é cumprirem até ao fim o seu chamado destino.


À primeira vista, Power Rangers não é mais nada senão um tradicional filme de adolescentes que após uma má experiência ganham super poderes e são fortes o suficiente para serem os únicos que podem salvar a Terra. A diferença é que têm duas horas e uma vilã que pouco ou nada serve senão mostrar que a união faz a força.

Esta abordagem moderna é exaustivamente insonsa na sua maioria, sendo que as coisas só começam a ficar interessantes durante a última meia hora de filme, que é sobretudo quando tudo está no seu auge. Os Power Rangers já estão nos seus terríveis fatos em CGI, com os seus veículos mais ou menos fixes e com a acção a decorrer. Até lá é tudo um grande teste à paciência enquanto toleramos uma história de origem comparável com o segundo reboot de Quarteto Fantástico, mas nem de perto tão mau.


No entanto, é razoável esperar uma coisa dentro do mesmo género que a série de televisão, que ainda vai dando cartas, mas com um orçamento maior. Sim, os efeitos da sua versão em televisão parecem saídos duma banda desenhada, algo que faz parte da identidade e que aqui se acha ser melhor que isso. Mas é de uma curiosidade tremenda em como este filme lançou as carreiras de Dacre Montgomery, que viria aparecer pouco tempo depois na segunda temporada de Stranger Things, e Naiomi Scott, que encantou o mundo como Jasmine no live-action de Aladdin e irá protagonizar a nova versão d'Os Anjos de Charlie mais tarde este ano. Entretanto, irá haver um novo reboot de Power Rangers com novos actores, ignorando por completo o star power que estes dois actores têm agora.


É importante referir que Adi Shanker produziu uma curta para adultos no âmbito do seu Bootleg Universe, intitulada POWER/RANGERS, que poderia ter sido expandida para um filme ou uma série numa das plataformas de streaming, ao estilo de como a Netflix e a Marvel fez com alguns dos seus super-heróis. Da mesma forma que parte do elenco original se juntou com outros ex-actores das séries de Power Rangers se juntaram para fazerem Legend of The White Dragon, um filme que, por questões legais, está a evitar a tudo o custo todas as associações directas ao seu material original, fiando que é bom suficiente para que seja associado apenas de forma implícita pelo espectador. Estes esforços colectivos (e independentes), apenas mostram que existe uma comunidade disposta a levar a ideia destes heróis a outros níveis, algo que é completamente admirável.


Sendo assim, este reboot é uma tentativa que não é inteiramente má, mas que merecia muito mais que uma mera história de origem, com uma personagem mais ameaçadora e uma liberdade muito maior em ser algo verdadeiramente incrível, considerando o seu orçamento, capaz de homenagear as suas humildes origens. Teremos que esperar pelo novo reboot, ainda sem data prevista, mas cruza-se os dedos para que saibam o que andam a fazer.

Nota Final: 3/5

19 de julho de 2019

Child's Play | O Boneco Diabólico (2019)


O ano era 1988 e Tom Holland (o realizador, não o Homem-Aranha) mudou a forma como olhávamos para bonecos inanimados quando lançou Chucky, o Boneco Diabólico, um filme que reuniu todos os elementos do cinema de terror no que era na altura uma nova abordagem. Naturalmente, o mundo ficou aterrorizado com Chucky, e muitos filmes depois, seis para ser exacto, eis que o botão de reiniciar é carregado para o remake/reboot com O Boneco Diabólico.

Nesta nova versão, realizada por Lars Klevberg (Polaroid), Karen (Aubrey Plaza) e Andy (Gabriel Bateman), uma mãe e filho mudam-se para Chicago em busca de uma nova vida quando um dia Karen traz para casa um modelo usado de Buddi, um boneco companheiro capaz de se conectar a certos aparelho em casa e ser um ponto central para os controlar. Excepto que este Buddi tem algo de especial com ele: não só se chama Chucky, como é nada mais e nada menos Mark Hamill a dar-lhe a voz, ao qual se juntam as tendências violentas, que o torna perigoso.


A abordagem pelo lado da Internet das Coisas (Internet of Things, ou IoT) resulta numa modernização mais competente do que esperado, tornando neste filme no que poderia facilmente ser uma entrada na antologia  da Netflix Black Mirror, pelo que a base da sua premissa tecnológica seja algo completamente plausível em 2019. Afinal, com frigoríficos e torradeiras que podem ser ligadas por Wi-Fi, era só uma questão de tempo.

Estamos perante uma versão que toca perto de assuntos actuais com seriedade, desde uma criança a tentar integrar-se no seu novo meio, em como damos muita importância ao que se passa no ecrã do nosso telemóvel, tudo coisas que já consideramos normal no nosso dia-a-dia. Aqui Klevberg utiliza com toda a eficácia o que é ser um adolescente e como tudo seria encarado nos dias de hoje, onde percebemos como é que um boneco se torna num assassino nato, querendo ele apenas quer brincar com o seu melhor amigo, sem que nada que lhe impeça de cumprir o seu objectivo.


Felizmente temos aqui duas horas onde o terror e a comédia fazem um excelente par, sem qualquer contenção, onde sangue, gore e risos se misturam duma forma orgânica e genuinamente divertida de se ver e sentir na pele. Claro que tem os seus defeitos, como a sua previsibilidade ocasional e por vezes ser exagerado nas suas mortes, por mais criativas que sejam. Ainda assim, não é nada que comprometa os muitos momentos de diversão que certamente valem a pena ver no grande ecrã e com boa companhia!

Nota Final: 3.5/5 (originalmente 7/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 19 de Julho de 2019.

14 de julho de 2019

Pokémon Detective Pikachu (2019)


Desde que o fenómeno Pokémon conquistou o mundo, estávamos todos à espera que mais tarde ou mais cedo, iríamos ver uma adaptação em animação 3D dos nossos pokémons favoritos. Na verdade demorou praticamente duas décadas, milhares de episódios, dezenas de filmes e jogos originais para chegarmos até à aposta da Warner Bros.

Realizado por Rob Letterman (O Gang dos Tubarões, Monstros vs. Aliens), Pokémon Detective Pikachu introduz-nos a Ryme City, uma das metrópoles mais emblemáticas, onde humanos e pokémons vivem lado-a-lado em sintonia, onde Squirtles colaboram com os bombeiros, por exemplo. Entretanto conhecemos Tim (Justice Smith), um rapaz que vai até à cidade após ouvir que o seu pai, um detective da polícia, fora morto ao investigar um caso. Tim, na sua busca em perceber o que aconteceu ao seu pai conhece um Pikachu falante (pela voz de Ryan Reynolds), que foi o seu pokémon parceiro.

Juntos vão relevando pistas úteis para o caso, que envolve o Mewtwo, um gás que torna os pokémons loucos e uma jovem jornalista chamada Lucy Stevens (Kathryn Newton), que quer provar como pode ser uma grande repórter.


Logo de inicio percebemos que estamos perante não só de um dos filmes mais esperados de sempre, como também um capaz de ser um evento só por si, ao acabarmos por não dar atenção à narrativa do filme para apreciarmos toda a produção e encontrar o máximo número de pokémons presentes no ecrã. Para quem estiver a contar, são ao todo 59 pokémons presentes na hora e meia de filme.

Um número muito pequeno, mas todos eles contam em ser altamente detalhados, destacando o próprio Mewtwo, ao qual se manteve fiel não só a nível de aparência, como à personagem que foi introduzida nos primeiros jogos como o poderoso e o mais misterioso pokémon na altura. A ele se junta uma brilhante cena com o Mr. Mime, que é tudo aquilo que poderíamos imaginar como seria uma interacção na vida real com ele, e os poderosíssimos Blastoise e Charizard, dois favoritos dos fãs que aqui fazem justiça na sua versão cinematográfica. Adicionalmente, ver um Pikachu viciado em café é capaz de ser das melhores coisas vistas no cinema este ano.


Por outro lado, estamos perante uma narrativa que joga muito pelo seguro, tendo noção que é a opção preferível considerando o número de seguidores deste universo, como também uma facilidade em gerir expectativas. No entanto, o mesmo é incapaz de dar um vilão propriamente ameaçador, sendo esse o ponto mais baixo desta obra. Ainda assim, é difícil não reconhecermos esta tentativa sincera em trazer para o grande ecrã o universo gigante de pokémon, fazendo algo bom e que agrade a fãs de longa data e a novatos à série.

Naturalmente que com um argumento mais arriscado e um tratamento melhorias, essas das quais esperamos ver em sequelas, irão beneficiar os filmes a longo prazo, mas Pokémon Detective Pikachu é certamente um bom primeiro passo para uma evolução incrível daquilo que podemos esperar daqui para a frente.

Nota Final: 3.5/5

Escape Plan: The Extractors | Plano de Fuga 3 (2019)


Ninguém estava preparado para isto, quando em 2013 o que seria de Plano de Fuga, um simples filme de escape de uma prisão, focada no seu star power entre Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, iria ter algum tipo de continuidade fora do seu plano inicial. Se a sua sequela, Plano de Fuga 2: Hades foi considerada pelo próprio Stallone um dos piores filmes que alguma vez protagonizou, a confiança foi dada a John Herzfeld (15 Minutos), onde Plano de Fuga 3 envereda um novo caminho para escapar.


Quando a filha dum magnata tecnológico é raptada pelo filho do vilão do filme anterior, cabe a Ray Breslin (Stallone) ir salvar o dia, quando rapidamente se vê numa situação inesperada, perseguido pelo passado.

Juntamente com a sua equipa de especialistas, Trent DeRosa (Dave Bautista) e Hush (50 Cent), estes vão até a uma prisão na Letônia, onde o perigo espreita. Mas não estão sozinhos, pelo que são acompanhados por Shen (Jin Zhang) e Bao (Harry Shum Jr.), que trazem o seu próprio conjunto de talentos nas artes marciais.


O facto das sequelas serem motivadas por uma produção Chinesa, algo que temos visto a crescer nos últimos anos no cinema, significa um aumento de diversidade no elenco, mas também uma narrativa adaptada onde cenas minimamente interessantes podem acontecer, muitas delas a destacar as coreografias de lutas, algo que estes filmes tiram o maior proveito. Estes crossovers intercontinentais claramente beneficiam ambas partes, não só por apresentar novos talentos ao oeste, como esses mesmos talentos provarem serem uma mais valia em função daquilo que contribuem para a história.

Na verdade, Plano de Fuga 3 não é a pior coisa alguma vez vista, considerando o tédio que foi o filme anterior, oferecendo um filme de acção mediano. Longe de ser uma obra-prima ou qualquer coisa que se assemelhe, aquilo que sabe fazer fá-lo de forma competente, desde uma realização ao estilo de uma boa série de televisão, e uma narrativa capaz o suficiente para entreter sem bocejos, é tudo o que poderíamos pedir.


Uma nota especial para uma das lutas finais, entre Stallone e Devon Sawa, que, segundo as redes sociais do veterano de acção, foi quase toda ela improvisada entre os dois. Como seria de esperar, tal comentário é intrigante, mas após visionamento é possível dizer que não é bem aquilo que era esperado. Ainda assim, é brutal ver como Stallone, na idade dele, ainda consegue ser um herói de acção como poucos são hoje em dia.

Nota Final: 2.5/5

11 de julho de 2019

Crawl | Rastejantes (2019)


Corria o Verão de 1997 quando Jennifer Lopez era uma das jovens promessas do cinema e protagonizou vários filmes que mereciam a sua atenção. Este Verão era especial, com a estreia de Anaconda, um filme sobre uma cobra assassina e os humanos que tinham que sobreviver os seus ataques. Era um momento especial para o cinema, pois apesar de filmes com répteis assassinos não serem novidade, tinham agora chegado ao auge do entretenimento, oferecendo emoções imediatas. Como esperado, o género prosseguiu o seu caminho natural ao virar do milénio, até uma multitude de produtoras, mais notoriamente The Asylum, cuja se especializou em fazer cinema com todo o tipo de animais, desde cobras, dragões, e os mais rentáveis de todos, tubarões.

O que nos traz até aqui, com a estreia de Rastejantes em 2019, um filme que, por razões que ninguém consegue bem compreender, quer nos levar por um caminho nostálgico, onde desta vez temos que ter cuidado com os crocodilos e acartar com as consequências do aquecimento global.


Haley Keller (Kaya Scodelario) é uma nadadora profissional com problemas em atingir os seus objectivos desportivos. A sua irmã Beth (Morfydd Clark) pede-lhe para ir ver o pai, Dave (Barry Pepper), quando um furacão de categoria 5, o mais grave de todos, está prestes a arrasar a sua pequena cidade. Contra tudo e todos, Haley encontra o seu pai ferido em casa, mas vê-se encurralada por crocodilos com fome.

Se por momentos pensam que voltamos atrás no tempo ou que o canal SyFy de repente quer mostrar os seus filmes no grande ecrã, ninguém vos irá censurar. De facto estamos perante uma narrativa que podemos esperar dum filme deste género, onde animal e humano estão frente a frente.

Tal como Anaconda, temos uma personagem feminina forte, disposta a defrontar os crocodilos de dentes afiados e um grande apetite, algo que torna Rastejantes no derradeiro filme pipoca, onde nada é para ser levado com seriedade. Isto é aparente pela constante falta de consistência e consideração dos ferimentos que Haley sofre nas mãos (ou melhor, dentes…) dos crocodilos e ainda assim nadar como se fosse uma campeã olímpica, em fuga para a sua salvação.


Com isto, Alexandre Aja, que realizou anteriormente Piranha 3D, outro filme onde os peixes são maus para as pessoas, traz para o grande ecrã algo a roçar o terrível, onde a sobrevivência do espectador depende na esperança que as coisas acabem por dar uma volta diferente e original, algo que, infelizmente, não acontece.

Assim, recomendo ficarem em terra firme e longe do pântano, pois Rastejantes não apresenta nada que não possam ver durante uma madrugada, onde Sharknado parece ser a melhor ideia para um serão nocturno.

Nota Final: 1/5 (originalmente 2/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 11 de Julho de 2019.

Dragged Across Concrete | Na Sombra da Lei (2019)


Vivemos numa era cinematográfica onde a reciclagem de filmes é uma constante, onde os remakes e os reboots esperam trazer um novo público para conhecerem as personagens do passado, num novo ponto de vista. Do outro lado do espectro está o cinema independente, um cinema que de vez em quando nos brinda com histórias originais o suficiente para tolerarmos os grandes blockbusters durante o resto do ano. Entra a Cinestate, liderado por Dallas Sonnier e responsável por iniciar uma onda de filmes de culto modernos, como A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas e Rixa no Bloco 99, onde S. Craig Zahler traz para uma nova audiência uma espécie de cinema onde as técnicas do passado são utilizadas para contar histórias do presente.

Na Sombra da Lei conta a história de dois polícias, Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), que tendem dobrar as regras para o bem maior. Quando são apanhados a ultrapassar a linha, são suspensos sem vencimento e têm a brilhante ideia de assaltar um criminoso que certamente não irá reportar a repentina falta de dinheiro.


É de franzir o sobreolho o casting de Mel Gibson, considerando as suas controvérsias de anti-semitismo no passado, aqui a encarar um papel onde é igualmente ignorante e racista, ao mesmo tempo que traz de volta a sua glória dos anos ’80 e ’90, como Resgate, ou até mais próximo, Arma Mortífera, aqui num estado mais sereno e contido. Nesta variante mais séria de um buddy-cop movie, rapidamente percebemos que estamos perante uma obra com uma grande narrativa por detrás, não tivesse o filme a duração de 2 horas e 39 minutos, onde todos os segundos servem realmente para contar uma história com muita polpa.

Há de facto muito para contar em Na Sombra da Lei e tudo é levado em conta para o desfecho duma história que não é só sobre dois homens que fizeram o que precisavam de fazer naquelas circunstâncias, mas também pelos olhos dos criminosos, esses com as suas próprias motivações para lançarem o terror pela cidade, onde a linha entre o bem e o mal é distorcida.


Novamente Zahler traz um argumento e realização que no fundo é uma bela mistura de Tarantino, até certo ponto, e a série de culto A Escuta, criada por David Simon, onde as semelhanças entre a mostra dos dois lados da lei são aparentes e feito com uma mestria marcante; da qual temos a certeza que estamos perante alguém preocupado em contar uma boa história onde todos os momentos importam.

Assim, Na Sombra da Lei é um filme recompensador para aqueles que lhe darão uma oportunidade, com uma narrativa cativante e uma realização que poucos cineastas são capazes de fazer tão bem. Ainda que a sua duração épica de pouco menos de 3 horas possa assustar, certamente não é algo que se irão arrepender.

Nota Final: 4/5 (originalmente 8/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 11 de Julho de 2019.

2 de julho de 2019

Yesterday (2019)


Juntar dois dos cineastas britânicos mais importantes da actualidade é tarefa fácil. De um lado está Danny Boyle, um realizador cujo trabalho dispensa apresentações, já tendo mostrado o seu talento inato numa multitude de géneros, frequentemente marcando a forma como vemos cinema. Do outro, Richard Curtis, um argumentista com um reportório de narrativas que nos deixam sonhar por um amor maior, com diálogos divertidos e inteligentes. O facto de os dois se juntarem para trazer ao mundo Yesterday deveria ser sinónimo de algo garantidamente bom, mas rapidamente se torna numa lição em gestão de expectativas.

Jack Malik (Himesh Patel) é um aspirante músico em busca de uma oportunidade para mostrar aquilo que realmente vale, mas vai-se contentando com o seu pequeno grupo de amigos fãs, incluindo a sua manager Ellie (Lily James). Isto até ao dia ocorre uma anomalia global e Jack é atropelado por um autocarro. Quando acorda, o mesmo apercebe-se que os Beatles nunca existiram, começando uma jornada de apropriação musical onde Jack passa a ser o autor das músicas dos famous four de Liverpool.


O primeiro passo para a fama é quando Ed Sheeran contacta-o para que abra os seus concertos numa tournée mundial, sendo esse o catalisador para um conjunto de acontecimentos que nos mostram um mundo paralelo muito bizarro.

Longe de toda a temática da ficção científica, Yesterday foca-se na fórmula tradicional duma comédia-romântica-dramática bem disposta, onde um zé-ninguém vê-se numa posição muito particular para subir ao estrelato, naturalmente perdendo a sua alma pouco a pouco, quando percebe que se calhar deveria ter tido mais cuidado com aquilo que desejasse.

Era esperado que dois titãs do cinema britânico trazerem os seus pontos mais fortes, com o estilo particular de Boyle a mostrar um outra visão de o que são as comédias românticas, com um humor mais apurado ao qual Curtis já nos habituou. Mas na verdade ambos parecem nem andar a meio-gás, algo que se torna extremamente frustrante, pois sabemos perfeitamente o que ambos são capazes de fazer. Felizmente Patel e James fazem um par giro, com Ed Sheeran a ser talvez a cereja dum bolo meio cozido.


Parece existir uma tendência cinematográfica em trazer de volta as memórias ou homenagens de artistas consagrados, em forma de biopics dramáticos, como Bohemian Rhapsody (Queen) e Rocketman (Elton John) ou novas histórias que são movidas à base desses mesmos artistas, como é o caso deste Yesterday e será mais tarde em Blinded By The Light – O Poder da Música (Bruce Springsteen). O que todos têm em comum, menos este último que ainda se está para ver, é serem obras medíocres, cujas intenções aparentam ser secundárias, motivado pela nostalgia e lidar a mais ouvintes aos serviços de streaming de música.

É por isso que sentimos na pele que Yesterday foi uma oportunidade desperdiçada, com poucos momentos interessantes de uma história com grande potencial,  provando que mesmo juntando os melhores dos melhores do seu género, as coisas podem dar para o torto, e rápido.

Nota Final: 2/5 (originalmente 4/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 2 de Julho de 2019.

1 de julho de 2019

The Standoff at Sparrow Creek (2018)


Quando a Cinestate foi fundada por Dallas Sonnier em 2016, com o seu amigo S. Craig Zahler a ter uma grande dose de sucesso com A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas, o mesmo prometeu que a sua produtora iria tratar os vilões da história como as pessoas que são na realidade: motivadas, inteligentes e sobretudo, dedicadas à sua causa, independentemente do quão controvérsia seria, invés de lhes dar o tratamento de Hollywood, que tende as rotular de idiotas sem razão.

Depois de ter produzido o segundo filme de Zahler, Rixa no Bloco 99, um filme que fincou a existência da produtora, eis que este produz a estreia de Henry Dunham no argumento e na realização com The Standoff at Sparrow Creek.


Depois dum tiroteio num funeral policial, um grupo de homens reúne-se no seu quartel general para descobrir quem da milícia foi o responsável pelo crime grotesco, ao descobrirem que uma das armas do crime está em falta no seu inventário. Cabe a Gannon (James Badge Dale), um ex-polícia tornado militante interrogar os seus companheiros e descobrir a verdade, pondo em questão os ideais que os unem.

O que Dunham acaba por criar é a sua própria versão do clássico And Then There Were None, de Agatha Christie, mas com a grande mudança ser o foco do ponto de vista dos maus da fita. De facto, estes homens são maus, ainda que esse julgamento seja feito com base naquilo que sabemos que defendem com garras e dentes, nunca vendo nenhuma acção malícia feita por eles. É da mesma forma que o filme decorre num único espaço fechado, onde todos são suspeitos dum hediondo crime.


Naturalmente que as coisas não são de todo pintadas a preto e branco, onde pela hora e meia de filme vamos percebendo as motivações de como estes homens passaram para o outro lado e aquilo são capazes de fazer e pensar como militantes, algo que certamente irá causar algum desconforto, numa altura em que os tiroteios nos Estados Unidos são frequentes. É ao tratarmos estas personagens como pessoas com uma certa inteligência, ao qual se junta o ego e a necessidade de ser patriota que nos afasta em simpatizar com eles, mas concretamente termos noção o quão longe um mártir é capaz de ir pela sua causa.

Vários são os momentos em que se consegue cortar a tensão com uma faca, enquanto Gannon faz a sua devida investigação, questionando até que ponto conhece aqueles que estão ao seu lado e o que fariam em certas circunstâncias, levando com seriedade um assunto capaz de ferir susceptibilidades.


Estando num estado permanente de escuridão, seguimos até a um final onde as reviravoltas casuais avançam a narrativa a bom ritmo, dos quais os detalhes intrincados somam-se para nos dar uma ideia daquilo que se passa na mente daqueles que rapidamente odiamos, e com razão. Mas como tudo, compreender o que motivam os vilões destas histórias, por menos que possamos simpatizar com eles, deixa-nos elucidados que os verdadeiros monstros poderão ser aqueles que menos esperamos.

Nota Final: 4/5

Brawl in Cell Block 99 | Rixa no Bloco 99 (2017)


Após uma estreia aclamada pelo público e pela crítica, com o western A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas, eis que S. Craig Zahler regressa com mais um passo interessante na sua curta carreira, ao escrever e realizar Rixa no Bloco 99, indo novamente no caminho de trazer de volta um género já pouco abordado: os exploitation films.

Bradley Thomas (Vince Vaughn) é um ex-pulgista tornado transportador de drogas, para dar à sua mulher grávida a melhor vida possível, após terem resolvido uma discussão grave onde Lauren (Jennifer Carpenter) tinha traído Bradley. Dezoito meses depois, as coisas parecem correr bem, até o que seria apenas mais uma ronda, acaba com Bradley a parar um tiroteio com a polícia. Infelizmente, este terá que cumprir uma pena na prisão pelas suas acções, algo que se torna difícil quando a sua mulher é raptada e é ameaçada a morte da sua filha ainda por nascer, caso não assassine um outro presidiário.


Estamos novamente perante um longo filme onde o foco é o desenvolvimento pessoal da personagem principal, que se vê numa situação dura de roer, a que se adiciona um problema ainda maior quando não tem outra escolha senão cavar um buraco ainda mais fundo para salvar aqueles que ama.

Incrivelmente, Vince Vaughn brilhante neste papel de durão, entre as várias lutas onde ainda leva uma boa dose de porrada em cima. Para um actor deste género, cujo reportório é composto grande parte dele por comédias e dramas, é bom ver que é capaz de suportar algo tão sério duma forma natural.


A narrativa demora o seu tempo a desenvolver, onde cada problema representa um passo em frente para a sua finalidade principal: chegar ao bloco 99 e cumprir aquilo que tem que fazer. Claro que tudo é prosseguido com angústia, onde pouco a pouco sentimos a raiva a crescer dentro de Bradley, que mais tarde ou mais cedo, lança o caos sem pensar duas vezes, mostrando uma realidade cruel do verdadeiro sacrifício para a família.

Mas Rixa no Bloco 99 é um filme deveras estranho de se ver hoje, considerando o mundo em que vivemos e como o filme descarta todas e quaisquer noções de politicamente correcto. Falo de situações de vocabulário racial, violação da integridade e uma descrição bastante gráfica de ferir alguém pelo puro divertimento, ao qual se junta uma boa dose de sangue e partes corporais partidas, sempre duma forma extremamente obscura e real. É assim que Zahler presta novamente homenagem a um género perdido e claro, faz-o da sua própria forma, onde a prisão é verdadeiramente um inferno.


No fim, somos brindados com uma mensagem triste e fria, sem qualquer tipo de embelezamento. A vida é terrível e mesmo quando tentamos fazer o bem e ser justos, nem sempre seremos devidamente recompensados pelas nossas acções, pois a vida não tem finais felizes e este filme muito menos. O que nos valha é que Zahler não tem intenções em parar, já que este é o primeiro filme na Cinestate, uma das produtoras que parecer ter os olhos postos em mudar o cinema independente, e está a consegui-lo.

Nota Final: 4/5