O cinema de terror por vezes dispõe-se a algumas regras dum sub-género, sobretudo quando se inspira em obras mais antigas, que foram os que definiram tais regras. Neste caso, a estreia de Oz Perkins, The Blackcoat's Daughter, procura jogar o mesmo jogo, com regras diferentes.
Quando duas estudantes num colégio católico se conhecem, Kat (Kiernan Shipka) e Rose (Lucy Boynton), terão que sobreviver sozinhas durante as férias de Inverno no campus, em Bramford. Enquanto Kat e Rose sentem com frequência algo obscuro a observá-las, conhecemos noutro local Joan (Emma Roberts), uma rapariga problemática que apanha boleia dum casal mais velho, que também vão em direcção de Bramform, começando assim um mistério.
A narrativa, contada duma forma pouco linear, dá-nos várias peças que parecem construir um puzzle com um segredo muito bem escondido. O que mais intriga, é a forma que o faz, sendo o filme dividido frequentemente em pequenas cenas isoladas, passando de personagem em personagem, garantido que vemos exactamente o que cada uma está a fazer e o que cada uma sofre no tempo gélido.
Estas três personagens, também elas, são muito interessantes de acompanhar entre si, com Kat a ser uma rapariga sossegada e introvertida, enquanto que Rose é mais rebelde e Joan parece ter dificuldade em recomeçar a sua vida normal. Mas também existe uma quarta personagem, esta praticamente invisível mas muito presente em toda a película, em forma dum sentimento demoníaco constante, deixando-nos muito nervosos no que poderá acontecer a seguir.
Oz Perkins faz um belo trabalho em agarrar em filmes como O Exorcista e O Exorcismo de Emily Rose e moldar os conceitos que cada um defende, onde as personagens femininas têm algum tipo de poder sobre aquilo que lhes atormenta. Kat, em toda a sua inocência, não tem amigos e parece não conseguir integrar-se na comunidade escolar, algo que lhe torna perfeita para uma entidade espiritual mal intencionada, ainda mais quando Rose revela que duas freiras foram apanhadas no subsolo a venerar o diabo.
Este é um dos slow-burns mais intrigantes já vistos, utilizando o tempo para definir os caminhos de cada uma, tocando em temas que darão que pensar que vão muito mais além do que apenas um demónio com intenções maliciosas. É acima de tudo um filme com um enorme foco nas personagens e onde elas se encaixam no meio de tudo.
Assim, The Blackcoat's Daughter é um exercício brilhante em saber subverter as regras do jogo, dando-as um propósito capaz de agarrar a atenção e deixar-nos a pensar no que está a acontecer, revelando as suas cartas nas alturas certas, criando assim uma obra que deveria ser de referência; onde Oz Perkins não podia ter feito melhor na sua estreia nas longas-metragens.
Nota Final: 4.5/5
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