28 de janeiro de 2019

The Killing of a Sacred Deer | O Sacrifício de Um Cervo Sagrado (2017)


Se há algo no cinema que vale a pena, é a possibilidade de passarmos uma experiência que nos transtorne a níveis mais além que um filme é suposto, quebrando a barreira invisível e impede-nos de dizer que é "só um filme". O escritor e realizador grego Yorgos Lanthimos tornou esse talento numa arma com O Sacrifício de Um Cervo Sagrado, inspirado na tragédia grega de Ifigénia em Áulide por Eurípides.

Steven (Colin Farrell) é um cirurgião cardiotorácico altamente respeitado, que nos últimos seis meses tem estado com o jovem Martin (Barry Keoghan), um rapaz que perdeu o pai numa cirurgia pela mão de Steven. Ambos têm uma relação amigável, onde Steven tenta reconfortar Martin com prendas e companhia, inclusive apresentado-o à sua família. Entretanto, algo muda e Martin ameaça Steven que tem que equilibrar as contas da morte do seu pai, tendo que matar um membro da sua família. Caso não faça uma escolha, os seus filhos, Bob (Sunny Suljic) e Kim (Raffey Cassidy), mais a sua mulher Anna (Nicole Kidman), irão morrer todos.


É deveras estranho a curva que este filme dá, a um momento tão delicado como vermos os pais a passarem pelo sofrimento dum filho em dores, neste caso, incapaz de sentir as suas pernas. É um sentimento que vai ficando cada vez mais constante, como se algo terrível se está a passar, sem nunca darmos bem conta visivelmente, fiando na nossa intuição.

Isto é possível pela cinematografia incrivelmente diversa, arriscando com vários enquadramentos que pintam uma imagem repleta de sublimidade, num estado altamente caótico. São as mesmas cenas que incomodam o espectador, que sente na pele que algo está muito de errado, algo que a banda sonora ecléctica contribui fortemente, deixando algo estranho na mente.


O Sacrifício de Um Cervo Sagrado também está cheio de pequenas alterações que parecem ser um mal comum neste universo, desde do tom mono-tónico que as personagens falam, quase duma forma clínica; como também uma atmosfera de desconfiança que estamos perante algo que se assemelhe a um culto, onde tudo tem uma ordem natural de ser. A isto se junta um peso permanente nos nossos ombros, que provavelmente nos quer afogar nas suas mágoas.

Não é de todo um filme fácil de ser ver. Não foi à primeira e certamente que não será à segunda ou à terceira, já que encontramos aqui a derradeira tragédia capaz de nos questionar das nossas decisões de vida, duma forma única que só Yorgos Lanthimos sabe fazer, querendo provar o quão longe vamos para proteger os nossos filhos e o verdadeiro significado da palavra "sacrifício".


Não existe nada como O Sacrifício de Um Cervo Sagrado, isso vos garanto, da mesma forma que jamais olharão para certas pessoas da mesma forma. Será que as conhecemos tão bem quanto achámos? Não me vá parecer que sim...

Nota Final: 4.5/5

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