14 de outubro de 2018

Bad Times at the El Royale | Sete Estranhos no El Royale (2018)


Drew Goddard, para quem não conhece, é um homem com uma capacidade imensurável de subverter todas as expectativas do cinema que escreve e realiza, tomando quase sempre a decisão de virar à esquerda quando achamos que as coisas estavam encaminhadas para a direita.

Com um currículo vasto em diversos cargos, foi em 2012, com A Casa na Floresta, que Goddard se estreou no lugar da realização, definindo alguns dos pontos mais discretos do cinema de terror de hoje.


Desta vez Goddard aborda o género de neo-noir, ao bom estilo das revistas de pulp-fiction, em Sete Estranhos no El Royale, um filme que junta várias personagens de pontos muito distintos num só local, desde de um padre (Jeff Bridges), uma cantora (Cynthia Erivo) e um vendedor de aspiradores (Jon Hamm), a uma femme fatale (Dakota Johnson), que traz consigo uma rapariga que raptou (Cailee Spaeny) e eventualmente, um líder dum culto carismático (Chris Hemsworth). A eles se juntam o único funcionário do El Royale (Lewis Pullman)

O próprio El Royale é também ele um local de charme. Separado por uma linha que divide o estado de Califórnia com o de Nevada, esta dualidade transpõe-se no tom do filme de uma forma discreta o suficiente para pôr em causa o destino do universo. Até o próprio El Royale contém um lado escondido, já que todos os quartos têm um espelho bilateral, podendo-se tirar partido da oportunidade de fazer maldade.


Mas é no edifício principal onde o verdadeiro El Royale sobressai, transbordando de retro-classicismo de 1969, com um jukebox contendo vários singles de The Isley Brothers e o icónico tema “Hush” dos Deep Purple, uma decoração inconfundível com máquinas de slots dum lado e um bar recheado do outro, já que as respectivas licenças de álcool e de jogo estão legais apenas em cada um dos estados.

O filme começa com um homem a esconder um saco de dinheiro debaixo do chão dum dos quartos do El Royale. Não há nenhuma informação adicional fora o plano fixo onde somos meramente testemunhas. 10 anos depois, conhecemos as várias personagens que se encontram no dia presente.


A premissa vai sendo construída aos poucos, que após a sua introdução, divide em blocos o que cada hóspede está a fazer, revivendo o conceito de como vários estranhos acabam ligados uns aos outros indevidamente. Mas também faz parte do sentimento que existe algo para além daquilo que vemos, algo que Drew Goddard é especialista em criar no espectador, incorporado pelas actuações sólidas dum elenco cujo reportório não desilude.

Assim, existe uma sensação genuína em acompanharmos este grupo de pessoas, numa noite chuvosa num hotel semi-abandonado, onde literalmente tudo pode acontecer neste épico de 140 minutos, que só Drew Goddard sabe bem fazer.

Nota Final: 4/5 (originalmente 8/10)


Originalmente publicado em Central Comics a 14 de Outubro de 2018

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.