19 de outubro de 2018

Unfriended | Desprotegido (2015)


O cinema de terror de baixo orçamento nunca prosperou tão bem quanto a primeira metade da década de '10, nas costas do sucesso de Actividade Paranormal, surgiram outras variantes pelo meio que tiveram graus de sucesso muito diferentes. Hoje falo-vos de Desprotegido, um dos primeiros filmes que utilizou a técnica de contar a narrativa focada no ecrã dum computador.

No aniversário do suicídio de Laura Barns, uma estudante do secundário vítima de bullying, um grupo de amigos reúne-se numa chamada de Skype, onde vêem uma pessoa a mais no grupo. Não sabendo quem é, os jovens, convencidos que é tudo uma grande partida, acabam por entrar num jogo mortal onde ninguém é inocente e jamais serão os mesmos.

Vendo o filme pelo computador de Blaire Lily (Shelley Hennig), fica assim estabelecido que ela é a personagem mais central desta história, já que parece ser a motivação mais forte atrás do suicídio de Laura.

À medida que os segredos das várias personagens são reveladas através dos jogos que este desconhecido propõe, a as relações entre eles são postas em causa e há um medo real com consequências igualmente reais.


Pela altura do lançamento do filme, o conceito ainda era relativamente novo, tendo sido introduzido em 2013 no slasher The Den de Zachary Donohue, sobre uma mulher que testemunha um homicídio através dum serviço ao estilo do Chatroulette. Mas onde The Den é imperfeito, Desprotegido aproveita ao máximo as suas limitações, desde de utilizar serviços reais, como o Facebook, o Skype ou o Spotify, todos eles com as suas interfaces datadas; à distância criada entre todos os intervenientes numa situação criada especificamente para que nenhum deles possa estar fisicamente presente enquanto que o inimigo comum é praticamente virtual.

É de admirar igualmente que a forma que Blaire interage com o computador é feita com uma naturalidade muito acima a outros filmes que utilizam a mesma técnica, mesmo por breves instâncias. Seja a mudar de janela, o que vemos ela a escrever e, por vezes, apagar nas janelas de chat, tudo parece e soa como se fosse à velocidade real.

A edição do filme é inteligente na forma que utiliza prioritariamente o seu visual para contar a história, poupando as personagens de fazer uma exposição vocal que não seria de todo normal. Mais, o filme utiliza a "desculpa" do lag para provavelmente cobrir os cortes dos takes, mas que o espectador nem repara.

Finalmente, também percebemos que Jason Blum gosta de usar jogos adolescentes nas produções da sua casa Blumhouse, com o jogo de "Eu Nunca" a ser um dos plot points importantes de Desprotegido e anos mais tarde vermos um filme dedicado ao jogo "Verdade ou Consequência" em... Verdade ou Consequência.


Apesar destes primeiros passos terem sido feitos à base do experimentalismo, o filme é capaz de seguir até ao fim a sua premissa, nunca recorrendo demais ao seu elemento sobrenatural. É aqui onde Desprotegido ganha e eventualmente perde, quando por meros momentos abandona o seu conceito original para dar um susto extra, que não parece ter valido muito a pena. Mas não é o suficiente para se dizer que a obra do ainda desconhecido realizador georgiano Leo Gabriadze, e o produtor russo Timur Bekmambetov, tenha sido inteiramente arruinada. 

Pelo contrário, a ousadia de ir por um caminho nunca antes explorado para contar uma história foi aplaudida tanto pela crítica como o público, clarificando que existe coisas a melhorar. Foi assim que em 2018 Bekmambetov tomou outro rumo com o mesmo conceito em Pesquisa Obsessiva, desta vez um thriller repleto de mistério.

Assim, Desprotegido pode ser considerado o verdadeiro pioneiro no sub-género, sendo capaz de dar alguns bons sustos pelo meio, mantendo-se fiel a si mesmo até ao último segundo.

Nota Final: 3.5/5

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