Quantos de nós, durante toda a nossa vida, vamos percebendo que a ordem natural que a sociedade impõe nas nossas relações é de conhecer alguém para passar o tempo, enquanto ficamos velhos, ter filhos e prosseguir com "a nossa parte" da manutenção da humanidade? Esta é a realidade que Lorcan Finnegan subverte no seu mais recente filme, Vivarium.
Gemma (Imogen Poots) e Tom (Jesse Eisenberg) são um casal à procura de um sítio que podem chamar de casa, até que visitam Martin (Jonathan Aris), um corrector de imóveis que lhes leva até Yonder, um bairro nos subúrbios, onde as casas aparentam ser todas iguais, mas que Martin vende como as casas perfeitas para passarem o resto das suas vidas. Yonder é um local estranho, onde tudo é simétrico e as cores esverdeadas e azuladas fazem parecer que estão a viver um sonho. O problema começa quando Martin desaparece e o casal não consegue encontrar a saída do bairro, forçados a viver na sua casa nova, onde entretanto terão que criar uma criança, deixada às suas portas.
Somos gradualmente puxados para um mistério intrigante, onde vivemos na esperança que a dada altura nos seja explicado que raios estamos a ver e porquê, nem que seja para percebermos onde a criança se insere no meio disto tudo. No entanto, enquanto que bem podemos esperar sentados, resta-nos absorver o que é apenas comparável à personificação de uma pintura surreal num universo que bem poderia vir duma versão obscura de Dogville, vinda da mente de Lars Von Trier, ou até ao ecléctico Debaixo da Pele, de Jonathan Glazer. Ainda que se faça difícil de compreender, Vivarium faz tudo para que não desviemos o olhar, algo que faz muito bem, deixando-nos a pensar no o que estará do outro lado da cerca.
Entre cenários falsos, demasiado plásticos para que se assemelhe a algo do mundo real, estes próprios algo assustadores, Finnegan explora de uma forma cirúrgica temas como o isolamento social, a paternidade e o significado de o que é a vida que a sociedade geral nos impõe, com os seus ideais romântico-sociais, que vemos constantemente a serem glamorizados na cultura, tudo em forma de uma lição que fica colada à nossa mente, onde tanto Imogen Poots, como Jesse Eisenberg encaram de forma assustadora as suas novas realidades, perante uma criança que cresce num homem-criança em meros dias.
Assim, Vivarium pode ser classificado como algo dentro de um género relativamente novo, o eco-terror, contando histórias onde a natureza vai contra a humanidade e as suas necessidades, provando a difícil luta contra a biologia humana. Ainda que num formato mais experimental, podemos contar com vários momentos de introspecção, mas a viagem poderá não ser a mais interessante para alguns. Para os outros, certamente irão encontrar aqui uma proposta curiosa, onde a realidade e o imaginário cruzam caminhos.
Nota Final: 3.5/5
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