11 de dezembro de 2018

Assassination Nation (2018)


Algo aconteceu a Sam Levinson. Possivelmente Trump ser eleito como presidente e todos os acontecimentos desde então inspiraram-no a deixar de lado a sua experiência nos dramas mais adultos, e escrever e realizar o seu mais recente filme, Assassination Nation, que parece agarrar no conceito inicialmente criado para a saga d'A Purga, com uma sensibilidade muito mais pessoal.

O filme abre com um trigger warning, demonstrando em poucos minutos dezenas de tópicos que o filme irá abordar na próxima hora e meia. Este aviso pode-se considerar importante, dependendo da sua interpretação. É mesmo um aviso sério, ou será apenas o primeiro de muitos socos da crítica social que o filme faz? Ambas opções podem ser consideradas em simultâneo.


Assassination Nation conta a história de um grupo de amigas adolescentes, Lily (Odessa Young), Sarah (Suki Waterhouse), Bex (Hari Nef) e Em (Abra), vítimas do consumismo das redes sociais, desde das mensagens ousadas, às nudes que mandam e recebem. São as mesmas raparigas que reflectem uma América teenager, cujas consequências são descartadas em função de viver no momento. 

Quando um hacker anónimo decide libertar para o mundo os conteúdos guardados de diversas pessoas da pequena cidade de Salem (sim, existe um paralelismo claro em relação à cidade), a vida de todos os habitantes jamais será a mesma quando todos os segredos estão em aberto, com consequências irreversíveis.


A quantidade absurda de tópicos que o filme aborda, aos clichés adolescentes do sexo, álcool e drogas, ligam-se rapidamente a outros temas sociais, como a transfobia, onde o sub-plot relativamente à transexualidade de Bex e o seu crush, Diamond (Danny Ramirez), é provavelmente o primeiro de muitos que veremos no futuro. Naturalmente a inclusão deste tópico, e de outros, como o slut-shaming e o racismo, são mostradas duma forma onde existe alguém a ser humilhado e como o povo reage perante isso.

No fundo, Assassination Nation é, ironicamente, a personificação fictícia de o que seria um filme se fizessem um sobre as comunidades do Tumblr, onde grupos de ambos lados se encontram; acompanhado por uma banda sonora criada à volta das modas de hoje em dia.


Naturalmente, tudo escala para a violência, onde egos feridos dominam o cérebro minúsculo de pessoas de mentalidades igualmente minúsculas, havendo uma transformação gradual do tipo de filme que quer ser. Obviamente que o controlo de armas a tiranos que escalam rapidamente a conclusões violentas acaba por ser o fim dos mesmos, quando são dados um pouco do mesmo veneno, com um terceiro acto relativamente criativo ao que se tem visto nos últimos tempos.

Existem momentos que o filme é consciente de si mesmo, como se tudo fosse uma simulação para o que é o pior cenário possível, quando se está a três passos dum país prestes a tornar-se nuclear. Sam Levinson sabe exactamente onde quer ir com isto e sabe fazê-lo duma forma em que não estamos a receber toda a informação duma só vez, preferindo uma abordagem à base de acções e consequências.


Com isto, Assassination Nation é um filme que, apesar de ter personagens cuja futilidade é apenas um sub-produto, programadas por hereditariedade e ambiente, mostra que basta um passo em falso para descender ao caos total. Tal como Black Mirror o fez, e melhor feito, este é certamente uma alternativa mais ou menos extrema, mas demasiado plausível para ignorar.

Nota Final: 4/5

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