29 de dezembro de 2018

Skate Kitchen (2018)


Quando Crystal Moselle quis abordar o cinema de outra forma, depois de ter feito o bem-recebido documentário The Wolfpack, a mesma encontrou a inspiração necessária quando realizou a curta-metragem The One Day para a marca de roupa Miu Miu, com um grupo feminino de skate, The Skate Kitchen. A combinação das duas forças motivaram Moselle a realizar o seu primeiro filme com uma narrativa preparada, mas a sua experiência prévia provou que Skate Kitchen iria ser um filme mais próximo de si.

Acompanhamos a vida de Camille (Rachelle Vinberg), uma skater introvertida que vai até Nova Iorque onde conhece um grupo de raparigas skaters, fazendo uma amizade próxima com elas. As suas decisões de vida infelizmente trazem-lhe transtornos, entre discussões com a sua mãe e uma paixoneta por Devon (Jaden Smith), um rapaz que conheceu no parque de skate.


É dum feito incrível a naturalidade que Moselle dá a Skate Kitchen, onde podemos apanhar um bocadinho do que é certamente o dia-a-dia para este grupo unido de raparigas, com o filme a esquecer-se com muita frequência que é uma ficção e aventurando-se pelo pseudo-documentário. Não podemos neste caso considerar isso um defeito, pelo contrário, é a química orgânica entre as diversas personagens e o seu talento de andar em cima dum skate que dá um nível de autenticidade que muitos poucos filmes do género são capazes.

Enquanto que a mensagem de amizade num ambiente rebelde é retratado de forma casual, existe uma leveza em ouvir um grupo de raparigas falar sobre as coisas normais da adolescência, como o período, o sexo e a busca da identidade própria, temas que tendem ter algum tipo de estigma associado, noutros contextos. É quase poético estarmos no banco de trás a assistir à vida de Camille e como ela e todas as personagens reagem entre elas neste mundo do skate, que nos sentimos que estamos exactamente onde Moselle nos quer, a respirar a adolescência moderna, capaz de fugir dos problemas dos adultos sobre uma prancha com quatro rodas.


Por outro lado, as coisas ficam menos positivas a partir do momento em que o foco muda para a inclusão dos rapazes e mais tarde na Camille e a sua relação com Devon, acabando por cair no erro de ser tornar ligeiramente banal, ainda que queira explorar o aspecto do amor jovem. É curioso como o tom muda drasticamente a partir do momento em que os rapazes têm um destaque maior e como de repente uma história sobre girl-power se torna desinteressante por causa disso.

Assim, Skate Kitchen vai de encontro em ser um pouco mais que apenas um coming-of-age tradicional, optando por preferir retratar num contexto narrativo a vida (quase) real das verdadeiras skaters que em muito pouco tempo ganharam a atenção do mundo. Crystal Moselle tem um enorme potencial e um método que pode não funcionar noutros enredos, mas com a oportunidade certa, a realizadora é capaz de contar algo tanto memorável.

Nota Final: 3.5/5

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