Vou-vos revelar um segredo: Criar um thriller é algo extremamente divertido. O processo de idealizar situações de conflito interno entre as personagens que estamos a torcer e momentos de suspense para deixar o espectador em pulgas é tudo o que dá ao contador da história uma oportunidade de fazer uma grande impressão. Porém, este super-poder nem sempre é bem utilizado, como é o caso em Um Desconhecido em Casa.
Cassie (Emily Ratajkowski) e Bryan (Aaron Paul) são um casal que viaja até uma casa numa vinha no meio de Itália em busca de reacenderem a sua relação, já que Cassie inconscientemente traiu o amor da sua vida com outro homem. Enquanto se instalam na sua casa temporária, o casal conhece um homem local, Federico (Riccardo Scamarcio), cujas intenções passam despercebidas, ganhando a confiança de Bryan e Cassie.
Naturalmente, algo de muito errado se passa com Federico, mostrando as suas verdadeiras cores como o grande antagonista que tenta separar o casal com o seu charme italiano, algo que Scamarcio faz muito bem na encarnação da sua personagem como o perseguidor.
Por outro lado, existe um sentimento quase fetichista ao vermos Ratajkowski a tomar banho uma mão cheia de vezes e a assustar-se a cada 20 minutos, ao qual se junta uma ingenuidade que leva a melhor dela em todos os momentos. Como se não bastasse, Paul também não está a bater nas teclas certas, apresentando assim uma dupla falível que acaba por ter o que merece.
Se as personagens são irregulares, o argumento segue a mesma linha. A trama principal revela-se ser inconsistente consigo mesma, como também mostrar um sub-plot ligado à violência doméstica entre Bryan e Cassie que não é abordada de forma nenhuma. Contam-se pelos dedos o número de cenas minimamente interessantes que acabam por ser destruídas por completo durante o clímax, que é levado muito para além daquilo que se poderia pensar.
É infelizmente o final que estraga praticamente o resto de um filme que por si já não convencia ninguém. Poderia-se de facto aplaudir o esforço de entrar por um trilho muito diferente do cliché previsível, mas o problema é quando a alternativa tem a capacidade nuclear de destruir quase por completo tudo aquilo que o filme construiu. Podem soar a palavras duras, mas apenas prova que o risco das soluções inovadoras nem sempre contribuem positivamente para a experiência.
No fim, Um Desconhecido em Casa é um filme frustrante quando deveria ser apenas esquecível, no qual caso não tivesse inventado o seu destino seria fácil passar ao lado. Assim, fica-nos na memória um filme cujo potencial não foi realizado…
Nota Final: 1/5 (originalmente 2/10)
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Originalmente publicado em Central Comics a 5 de Dezembro de 2018
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